Um milhão de novas palavras: Venezianos Pub Café

Em 2015 eu fiz um artigo falando sobre (e mostrando) os lugares de Porto Alegre que foram importantes na vida e na carreira da Filipe Catto, baseado nas declarações que ela mesma tinha dado em uma matéria em que apontava esses locais. Você pode ler aqui: https://filipecattoemfoco.com/2015/11/07/catto-tour-a-verdadeira/ mas faltou um local fundamental que na época eu não tive chance de conhecer. Nessa minha última ida à POA, para os shows do Agulha e depois Santa Maria, do Circuito Orelhas, eu decidi que era a hora de visitar o famoso bar Venezianos ou como ele é mais conhecido, o Venê e assim fiz.

No dia 23 de janeiro último, um domingo, eu tinha verificado que o Venê faria uma feirinha do lado de fora de sua sede, na Cidade Baixa e lá fui eu para, finalmente, conhecer a casa que abrigou, junto com o Ocidente, os primeiros shows solo da Catto. Como sempre, cheguei super cedo e o Venê estava ainda fechado, como mostra a foto acima, mas lindo e imponente em uma região super acolhedora e com jeitinho de bairro gostoso de se morar. Vi que tinha um lugar muito interessante, quase em frente, só que do outro lado da rua, e fui pra lá ver se dava para beber alguma coisa e aguardar que o Venê abrisse com sua feirinha para que eu pudesse conhecer por dentro. Este lugar onde fui é outro achado e vou falar sobre ele na coluna “Descolando um lugar”. Bom, o tempo foi passando e uma chuva forte chegou, o que ia inviabilizar a feirinha ao ar livre, mas para minha sorte, a dona deste lugar descolado onde eu estava se comunicou com a Ali, uma das atuais sócias do Venê e ela, gentilmente, abriu o Venê para que eu pudesse conhecer e mesmo sem poder fazer a feirinha no momento, por causa da chuva forte, ela me recebeu no pub e mais do que isso, me contou histórias incríveis sobre o lugar, sobre a região, enfim, passei momentos maravilhosos na companhia super agradável e simpática da Ali e vou reproduzir aqui, um pouco do que aprendi com ela naquela tarde chuvosa em Porto Alegre.

A Rua Joaquim Nabuco, onde o Venê se localiza, já foi chamada de Rua dos Venezianos e por quê isso? Porque era nessa parte da cidade que o Carnaval começava e como os foliões usavam máscaras, eram associados aos mascarados de Veneza. Daí, venezianos. E na esquina do pub, existe a Travessa dos Venezianos, uma espécie de vila de casinhas coloridas e que pode ser transformada na Esquina da Diversidade de Porto Alegre, graças ao projeto que existe na Câmara dos Vereadores para este fim. Segundo o que a Ali me contou, reza a lenda que nesta Travessa morava um africano, pai de santo e muito respeitado na época e que foi o mentor espiritual do então governador do estado Borges de Medeiros. Graças a isso, a religião de matriz africana passou a ser mais respeitada.

A Travessa dos Venezianos, vista de uma das janelas laterais do Venê

O Venê foi inaugurado nos anos 90, mas tinha o nome de Fly, porque os primeiros donos eram aeroviários e a fama da casa começou porque devido à profissão dos sócios, os sucessos internacionais chegavam primeiro ali. Quem é da época se lembra que um disco saía no exterior, mas demorava vários meses a serem lançados aqui, então quem trazia uma novidade fresquinha e tocava logo com certeza fazia sucesso. O pessoal que fundou o Fly resolveu mudar de endereço em 1999 e no dia 18 de janeiro do ano 2.000 nascia o Venezianos Pub Café, com a sociedade de duas mulheres e a boa notícia é que ele acaba de completar 22 anos no mesmo local e com a mesma filosofia desde o início: propiciar à comunidade LGBTQIA+ um lugar seguro e um ambiente onde todes podem se sentir à vontade e acolhides. Segundo Ali, a ideia é oferecer um local em que as pessoas possam demonstrar seu afeto sem receio de qualquer repressão ou olhares atravessados o que, infelizmente, ainda acontece em outros ambientes.

O Venê tem seus 107m2 divididos em dois espaços: a parte inferior, onde acontecesse o videokê, as exposições de arte, as festas drags e a parte superior, mais dedicada ao restaurante, com suas mesinhas e paredes recheadas de arte, na maioria de artistas LGBTQIA+ e de outros artistas gaúchos.

Tudo no Venê é de bom gosto e tem um toque artístico. Até a áreas dos toilettes é super caprichada

E onde que a Filipe entra aqui na história? Bom, ela se apresentou, com seu violão, algumas vezes na casa. Isso, no ano de 2006 e como a Ali descreveu, aquela pessoa linda, na época com jeitinho de “emo”, meio andrógino e com a coragem de ser quem é. Uma figura expoente, com aquela voz impressionante e com o brilho que só as grandes estrelas têm. Palavras da Ali. E também foi no Venê que Valéria Barcellos viu Filipe cantar pela primeira vez, em um show em que cantava Bethânia. Valéria se lembra de como ficou impressionada com aquela voz e cantou uma canção com Filipe. Se você quiser saber mais detalhes sobre isso, leia a entrevista que fizemos com Valéria aqui: https://filipecattoemfoco.com/2019/06/05/papo-afinado-valeria-houston-barcellos/

Ali me contou também que se lembra do dia em que Filipe apareceu pela primeira vez no Programa do Jô Soares e que todos se reuniram em volta da TV para assistir. Para ela parecia uma final de Copa do Mundo. Todos felizes e torcendo pela estrela gaúcha. No Venê também tem uma imagem de Vênus, a deusa do amor, que protege a casa, assim como uma de Santo Antônio. Mais uma afinidade.

A programação, antes da pandemia, era a seguinte no Venê: terças-feiras karaokê, quartas e quintas DJ, sextas shows ao vivo e sábados shows mais cedo e mais tarde DJs. Com o fechamento das casas, por causa das restrições sanitárias, a opção foi fazer a feirinha aos domingos, no lado externo da casa, na calçada, com música e venda de vários produtos feitos por parceiros locais.

Alguns dos itens oferecidos ao público na feirinha de domingo, na calçada do Venê.

Aos poucos as atividade estão voltando e olha que coincidência, hoje, 4 de fevereiro, quem vai se apresentar no Venê é Valéria Barcellos! Recomendo demais que quem estiver na cidade vá conhecer este local tão importante para a cultura de Porto Alegre. Filipe esteve no karaoquê há pouco tempo e como sempre se divertiu muito por lá. Agradeço demais à Ali pela acolhida, simpatia e a delicadeza em me receber e contar tanta coisa interessante. Espero que da próxima vez que eu for à POA eu consiga ver um show no Venê. Seria perfeito se fosse da Filipe com Valéria e Adriana Deffenti. Eu não peço pouco, né? Rs rs

Texto e fotos de Klaudia Alvarez

Venezianos Pub Café – Rua Joaquim Nabuco, 397 – Cidade Baixa, Porto Alegre, RS

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