Fragmentos

“O meu gênero é não binário. Às vezes eu penso sobre o “ele” ou “ela” como se fosse uma questão apenas cultural. É como se eu chegasse em um lugar e as pessoas não entendessem o que eu sou. Eu não sou isso. Claro que eu nasci em um corpo masculino, mas eu não posso também dizer que eu sou uma mulher trans. Eu não me vejo como binária. É simples e complexo. Eu não tenho o ele/ela. É uma língua nova, uma coisa nova, então me chame nos dois. Tanto faz. Depende muito de quem está falando. A minha mãe me chama de “ele” ainda. Ela não consegue assimilar isso. Os meus amigos de “ela”, de “ele”. Eu gosto muito da ideia de estar no “não-lugar”. É estar em um lugar novo. Não sei onde essa experimentação com a minha identidade vai me levar, porque eu acho que essa experimentação é artística. Eu fico grata porque veio junto com essa libertação que foram as minhas irmãs que me trouxeram. Eu gosto muito disso, da ideia de estar dentro de um coletivo. Eu sou um grão de areia nesse lugar que é muito grande e isso me protege porque me dá um carinho de eu poder viver esse processo com amor próprio. Eu entendo que é um processo muito violento, muito difícil. Tem que ter muita terapia, muito cuidado, muita escuta, muito acolhimento.”

(Filipe Catto em entrevista para Gisele Kato no programa “Encontra” do canal Arte 1.)

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