Memória: Gisberta Salce Júnior

Gisberta Salce Júnior, mulher trans, resolveu deixar São Paulo quando completou 18 anos, pois estava assustada com a onda de agressões a travestis e transexuais que ocorria na cidade. Achou que na Europa conseguiria viver com mais liberdade e segurança. A princípio tudo deu certo, primeiro na França e em seguida em Portugal. Bela e talentosa, Gisberta se apresentava em casas noturnas da cidade do Porto e para completar sua renda também praticava a prostituição.

Passaram-se cerca de 20 anos até que Gisberta contraiu o vírus HIV e não conseguiu mais trabalhar. O sonho de uma vida confortável e segura chegava ao fim e, sem ter acesso aos benefícios governamentais que poderiam garantir sua sobrevivência, Gisberta se tornou uma sem teto nada saudável que procurou abrigo em um uma construção abandonada. Lá ela vivia em situação muito precária até o fatídico dia que hoje completa exatos 16 anos em que um grupo de meninos com idades entre 14 e 16 anos resolveu atacá-la em seu refúgio e depois de a violentarem, agredirem covardemente, a jogaram, ainda viva, em uma poço abandonado onde ela morreu afogada.

Um fim lamentável e violento demais para alguém que fugiu exatamente disso por ter nascido no país que, infelizmente, ainda é o recordista mundial em assassinatos de pessoas trans e travestis.

Gisberta virou um símbolo da luta contra a transfobia em Portugal. Até hoje grupos LGBTQIA+ homenageiam sua memória e ainda lutam para ter uma rua do Porto com seu nome. O compositor português Pedro Abrunhosa compôs “Balada de Gisberta” que foi cantada por Maria Bethânia e que já teve uma montagem nos palcos brasileiros feita pelo ator Luis Lobianco.

A triste história de Gisberta ainda não é muito conhecida no Brasil, mas é importante que sua memória seja reverenciada e que sempre se lute contra esse tipo de crueldade.

Das versões da canção “Balada de Gisberta” que já ouvi, a que mais me emocionou foi a que a cantora e compositora trans não binárie AoCoral apresentou em seu show realizado em São Paulo, no Galeria Café SP, em novembro de 2021.

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