“Um filme incômodo, mas que permanece na memória como poucos; Ata-me continua chamando atenção após décadas
Obra suscita debates sobre relações afetivas e saúde mental, por abordar uma história forte de modo bastante excêntrico.
Um jovem chamado Ricky, após passar metade de sua vida rodando por orfanatos e hospitais psiquiátricos, busca reencontrar Marina, uma atriz famosa da indústria do cinema pornô. Apaixonado pela ideia que possui dela, ele a sequestra a prende numa cama com o objetivo de fazê-la se apaixonar por ele, custe o que custar. Essa é a trama central do filme espanhol Ata-me, produção de Pedro Almodóvar de 1989 protagonizada por Antonio Banderas e Victoria Abril.
A produção, que inicia com um cunho um tanto melodramático, traz um enredo de proposta excêntrica, buscando uma história que choca e, por vezes, incomoda o espectador. Essa caraterística é conhecida do cinema de Almodóvar, que comumente constrói histórias bizarras com personagens extravagantes em suas obras.
O filme acompanha o processo de construção da personalidade de Ricky, que chama atenção por possuir uma obsessão patológica por uma mulher que só viu uma vez em sua vida. Ele desafia os limites do que qualquer pessoa pode estabelecer do que deve ser bom senso. Em seu universo particular, tudo, por mais absurdo que seja, é válido para conquistar o que considera ser o seu verdadeiro amor.
Ata-me consiste numa comédia romântica que difere completamente do que geralmente se espera do gênero, por possuir um tom sombrio, ao abordar relações afetivas de maneira doentia. Embora a abordagem do tema se mostre polêmica ao suscitar debates dentro do universo do politicamente correto na atualidade, é fato que a excentricidade que o ritmo do filme traz leva o espectador a pensar no que assistiu por bastante tempo. Uma obra perturbadora e, em alguns momentos, difícil de assistir, mas que permanece na memória.”
(Texto de Zeca Lemos)
FILIPE CATTOㅤㅤㅤㅤㅤㅤ[EM FOCO] 