
Quando o ano acaba
Pandemia é dor. Dor extrema. É medo que dói na alma. Porque pandemia é sofrimento e morte, é crise e desemprego. Miséria. Reclusão. É limitar a vida e cancelar rotinas e costumes. É finalizar o que já foi. Mas toda noite precede o dia, e todo inverno é o contraponto do verão. Não há sombra sem luz. Então, se há dor, há também um outro lado, o do aprendizado.
A pandemia me ensinou o poder do meu santuário, do lugar onde me alimento e me recupero. A minha casa. Lar de toda vida e prosperidade, onde reúno amor e esperança, onde gero existência e alimento esse novo existir — e o mantenho sempre exuberante, em busca de um crescimento conjunto e sistêmico. Porque minha casa é sim um ecossistema. Como tudo.
E quando falo de prosperidade, falo de qualidade, não de quantidade, falo da descoberta de que com menos eu sempre ganho mais. É o milagre da multiplicação, aquele lá da bíblia, lembra?
Só agora sem o ego mítico, com seus sonhos hierárquicos e suas alegrias de posses e veneração, enxergo o todo e me torno parte de tudo. Só agora eu aproveito mais. Uso mais. Cresço mais. Sou muito mais.
A pandemia dói, mas também ensina quem estiver disposto a aprender. E para aprender é preciso mudar. Lembra do colégio? Você subia de série e tinha de deixar para trás professores, colegas, sala, carteira, aquele desenhinho que fez na mesa ou o recadinho do crush talhado na madeira. Para aprender e evoluir é preciso saber abandonar. Deixar ir.
Nesta pandemia, precisamos abandonar um século inteiro e todo o seu consumismo lobotomizado, ambição desenfreada, materialismo cego, ganância assassina e superficialidade rasa e emburrecedora. É isso tudo que estamos abandonando. E dói também, como no colégio.
Temos agora a oportunidade de passar ou de repetir de ano. Você pode. Você vai. Vamos todos mudar sim. Para muito melhor. Porque vida tem morte, mas vida é evolução.
O tempo não para, não pode parar jamais. O segredo é estar sempre em movimento, acompanhando a roda do abandono e da evolução, acompanhando o fluxo da chama, o som das vozes que clamam, a energia que pulsa no peito, essa coisinha que você escuta e sente, esse chamada que estamos recebendo para finalmente entendermos o que de fato é a beleza e a grandiosidade dessa experiência quase inexplicável que é viver.
O ano está acabando e chegou a hora de subirmos de série. Que venha o novo.
(Daguito Rodrigues)
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