Quem nunca ouviu essa frase: “a única certeza que temos na vida é que vamos morrer um dia”? Mas quem quer pensar nisso ou ter a morte perto? Creio que ninguém. Sempre a imaginamos como algo distante, que só chega pra pessoas em idade bem avançada ou alguém muito doente, quando ela seria quase que um alívio, o famoso “descansou”. Acredito que mais do que a morte, propriamente dita, o que mais nos assusta é a possibilidade do sofrimento, da dor física mesmo, da limitação de funções básicas, aquelas em que a gente nem presta atenção e só dá a importância que elas merecem quando as perdemos ou ficam limitadas e dependentes de algo externo.
O que esse momento que estamos vivendo nos trouxe de mais angustiante foi a proximidade indesejável com a morte. Ela está em todos os cantos, nos espreitando e levando mais de mil pessoas por dia, apesar de alguns ainda negarem essa triste realidade. Por mais que a gente se tranque em casa, a ameaça se faz presente, seja por uma entrega ou qualquer contato com algo que vem de fora. E o pior, é invisível, não tem como você saber aonde está.
Essa situação veio pra nos mudar pra sempre. Quem vai agir da mesma forma que antes? Quem vai sentar tranquilamente em uma mesa de bar e beijar a pessoa que acabou de conhecer ou dividir o gargalo de uma garrafa de cerveja como fazíamos antes? Ou mesmo compartilhar o beck em uma rodinha?
O horrendo “novo normal” é insuportável e indesejado. Nunca mais seremos os mesmos e a espontaneidade está praticamente banida. Sempre ficaremos com um pé atrás em relação ao outro. E os outros em relação a nós. E ninguém pode ser culpado ou julgado por isso. O instinto de sobrevivência fala mais alto, sempre. É quase irracional.
Como agir, socialmente falando, quando for possível socializar novamente? Vamos esquecer rapidamente que a morte está na esquina, detectada pelo aplicativo que mostra as vitimas fatais na sua rua ou essa neurose se instalou pra sempre em nossas mentes? Eu não sei responder a nenhuma dessas perguntas. Sei apenas que isso tudo me marcou profundamente e não faço a mínima ideia do que será o futuro ou se ele existirá. O que nos resta é viver a cada dia a rotina que nos é permitida, tirando dela o melhor possível, fazendo bom uso da tecnologia que dispomos e aproveitando para adquirir novos conhecimentos(que nem sabemos se vamos utilizar) e tentando nos distrair com a arte que chega até nós. Parece bem pouco pra quem tinha vontade de conquistar o mundo, mas a realidade é dura e cruel e só nos sobra encará-la. De máscara, claro.
(Texto de Klaudia Alvarez)