
Conheci o Filipe numa passagem dele pelo programa da Fátima Bernardes. Lembro que estava na cozinha passando um café e ouvi uma voz muito bonita vindo da TV. Corri pra ver quem era a moça cantando e fiquei surpreso quando me deparei com aquele rapaz lindo e um pouco tímido. Ele estava cantando “Garçom”, do Reginaldo Rossi, uma versão tão única que desde aquela época não consigo mais ouvir a original sem pular pra dele.
O que mais me fascinou, além da voz dele, é claro, foi a figura meio andrógina, mesmo que naquela época ele ainda fosse mais contido. O Filipe tem aquela coisa de incitar um movimento de liberdade dentro de você. Assim que tive contato com essa pessoa tão inspiradora eu me senti instigado, me senti motivado a ser mais eu mesmo. Naquela época eu ainda era um adolescente meio estranho e sempre procurava me esconder pra não me expor tanto e acabar me tornando um alvo. Mas depois que conheci o artista Filipe Catto vi que aquela energia que ele transmitia era algo que eu também queria transmitir. Foi um processo gradual até eu finalmente ser quem sou hoje, e todo o momento de autodescoberta que eu tive foi acompanhado pela arte dele.
De lá pra cá já passei por muitas mudanças externas e internas, já deixei o cabelo crescer, tive um guarda-roupa que expressava mais a minha identidade enquanto bicha, tive experiências únicas que, se não fosse pela inspiração que senti pela arte do Filipe, não sei se eu teria tido. E acho que é por isso que o último álbum dele, o “Catto”, é tão importante pra mim. Vejo nesse álbum o resultado de todas essas experiências de transformação: uma bicha tão linda e tão forte, sem medo de se jogar, sem medo de se expressar! Fico tão tocado que me sinto inspirado pra produzir coisas e me expressar também, dar a minha cara a tapa. Se hoje sou quem eu sou, é por causa do Filipe.
Daqui pra frente espero que ele continue sendo um artista tão autêntico quanto é agora, para que inspire não só a mim, mas muitas outras pessoas a se mostrarem pro mundo sem ter medo ou vergonha. Ele me fez perceber que sou lindo sendo a bicha que sou, livre. Quero que ele ganhe mais visibilidade ainda pra que mais pessoas tenham a sensação de liberdade que tive ao ouvi-lo pela primeira vez.
(Victor Neves, Rio de Janeiro, RJ)