Os Bastidores do Show “Persona”

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Claro que eu não poderia deixar de escrever sobre o histórico show Persona, que no último dia do mês do cachorro louco reuniu duas das cachorras mais icônicas da música brasileira — e, portanto, mundial: nosso Filipe Catto e seu grande amigo e diva, Johnny Hooker.

Eu compartilho do que Filipe disse no Instagram: tenho pena de quem perdeu esse espetáculo. Porque, mesmo que ele rode o Brasil em breve, a surpresa e a novidade desta primeira vez jamais deverão se repetir. Por mais que a maioria sonhasse ou imaginasse detalhes, ninguém sabia ao certo que músicas eles cantariam, como dividiriam os trechos de cada uma, como se posicionariam no palco, que estilo de roupa ou arranjo musical trariam para o espetáculo etc.

Só quem estava lá quando as cortinas da Casa Natura absurdamente lotada se abriram, e Filipe e Johnny surgiram em pé, cada um de um lado do palco, um de frente para o outro, e começaram a cantar Escândalo, sabe do que estou falando. Só quem viu quando eles cantaram, juntos, o refrão de Lua Deserta entende. Foi emocionante.

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Acompanhei toda a pré-produção deste momento mágico e o que posso dizer é que tudo aquilo que vimos lá — o amor, a sintonia, a identificação e os sorrisos — estavam presentes desde o início do projeto. Toda aquela energia foi absolutamente real e esteve o tempo todo com estes dois artistas máximos contemporâneos. A parceria musical apenas replicou a intimidade pessoal.

Quando tudo começou, com a ideia de fazerem esse espetáculo para a abertura da exposição do talentosíssimo fotógrafo Diego Ciarlariello, tanto Filipe quanto Johnny — apesar de todo o profissionalismo que ambos têm com relação a qualquer trabalho deles — encararam esta oportunidade como uma grande chance de também se divertirem, exatamente como se divertem quando estão juntos fora do trabalho.

O que eles falaram no microfone, de que as músicas que selecionaram são exatamente as que escutam juntos com cerveja ou mesmo chá (sim, eles também são saudáveis) não foi mentira. E eu acho que essa sensação leve de amizade e de diversão estava espalhada também pela plateia. Pessoas com as quais cruzo em todos os shows do Filipe estavam lá como se fosse uma festa de todos nós, uma reunião democrática e íntima na casa de amigos, com uma turma que ama música e que adora esses dois cantautores tão simbólicos para o momento que vivemos. E eu, particularmente, ainda tive a sorte de assistir ao show ao lado de outra grande amiga dos dois e também uma das mais icônicas cantoras de nossos tempos, a divônica maravilhosa Liniker.

Esse clima de festinha esteve presente nas reuniões na casa do Johnny, nos ensaios no estúdio Veredas, na passagem de som no dia da apresentação e no camarim antes e depois do show.

Quem já teve a sorte de acompanhar os bastidores de uma apresentação do Filipe sabe que, mesmo ele sendo exigente quanto ao som, à luz e aos demais elementos que compõe o espetáculo, o cantor traz uma atmosfera de paz e tranquilidade o tempo todo. Risadas, piadas ao microfone, brincadeirinhas, tudo é sempre leve e gostoso. Não foi diferente naquele trinta e um de agosto: com equipes misturadas (alguns profissionais da turnê do Filipe com outros da turnê do Johnny) tudo se manteve na maior sintonia do amor e da serenidade.

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Mesmo no camarim, minutos antes de subirem ao palco, Filipe bebia seu chá rotineiro enquanto Johnny tomava uma Heinekken, rindo e brincando, sem o menor sinal de tensão que uma estreia como esta poderia provocar.

Além dos dois, estavam lá também Diego, já citado, e Alma Negrot, performer da mais alta qualidade e que já vem trabalhando com os dois artistas há muito tempo. Pode-se dizer que eles quatro já formam um grupo de amigos que bebe junto em casa, nas escadarias da Roosevelt (quem já viu?), nos bares do Baixo Augusta ou em festinhas alternativas pelo Centro de São Paulo. Por isso, tudo pareceu tão natural e verdadeiro, tão pessoal e emocionante: porque é. Só amigos que se amam muito assistiam juntos aos episódios de Game of Thrones, não é?

Eu mesmo chorei logo na passagem de som quando os dois cantaram Believe, canção famosa na voz da Deusa Cher, e repeti o feito durante o show. Quem conseguiu segurar as lágrimas?

Claro que eu sei de músicas legais que acabaram ficando pelo caminho e não ganharam vida no palco — não vou citar nenhuma porque, quem sabe elas não voltam ao longo da turnê? — arranjos que eles experimentaram e também acabaram mudando, mas, no geral, o espetáculo já nasceu pronto logo na primeira reunião que fizeram numa noite fria de São Paulo, na casa do Johnny.

Em poucas horas, definiram qual seria a banda, o repertório, a ordem do setlist, o nome do show, a performance da Alma Negrot e até uma participação especial que acabou não se concretizando por conta da agenda — vamos deixar esse nome guardado.

Depois de todo esse trabalho com gosto de presente — não só para os fãs, mas para eles mesmos — quem foi à Casa Natura pode dizer que presenciou um encontro histórico para a música, para a cultura, para a política e para a sociedade.

Porque o que eles representam não está simbolizado apenas no som que sai de suas gargantas ou nas letras do que eles cantam, mas em cada gesto, em cada escolha de roupa, em cada detalhe de maquiagem: Filipe e Johnny representam a liberdade e o amor próprio, a autoafirmação e a aceitação do diferente. Cada um a sua maneira, os dois espalham sementes evolutivas por onde passam e, assim, levantam o rosto e aquecem o coração de pessoas espalhadas pelo mundo, com um resultado que a gente conhece e vê, mas que em algumas vezes, no fundo, mal consegue imaginar.

A isso a gente dá o nome de arte.

(Texto e fotos de Daguito Rodrigues)

4 Comments

  1. Lindo texto Klaudia. Emiciona do princípio ao término.senti perder o show. Mas guardo a esperança de vê-los numa oportunidade espero que breve.

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