
Foi ontem (30/8/09). Baixei o álbum (EP) de estréia de Filipe Catto, Saga, e fui escutar com grande curiosidade. Conhecia apenas uma composição do músico, Ressaca, que Adriana Deffenti incluiu no seu mais recente show. Como gostei da letra, estava esperando a oportunidade de conhecer o trabalho solo do artista. Demorei um pouco, mas agora me sinto na obrigação de escrever alguns comentários sobre ele.

Digo isto porque desde o início o álbum de Filipe Catto me surpreendeu. Como nodownload que o artista disponibiliza em seu site as músicas são acompanhadas por um encarte, fui direto conferir os músicos que o acompanhavam no álbum, estando lá, para minha surpresa: Carlito Magallanes no bandoneón e Matheus Kléber no piano. Bom, aí o meu olho cresceu! Se já tinha convicção de que Catto era um bom letrista, tendo como amostra a música citada anteriormente, agora tinha certeza que era acompanhado de excelentes músicos, já que o uruguaio Carlito é autoridade inquestionável no bandoneón e no tango feito aqui por estas bandas há décadas e Matheus Kléber integra o grupo instrumental Xquinas e acompanha diversos músicos, como Angelo Primon, sempre impressionando pela qualidade na execução doacordeón e, agora, do piano. Além destes, fazem parte das músicas Ricardo Fa (violão, cavaco e pandeiro), Plínio Salles (baixo), Jua Ferreira (bateria), André Ressel (percussão), entre outros.
Após tudo isto, fui comprovar a beleza e a qualidade do trabalho ao escutar as 7 faixas do álbum. Começa com uma introdução instrumental de tango, curta, porém intensa, dando o tom das três faixas seguintes, todas dialogando com o “filho da milonga”: Saga, Ressaca e Ascendente em Câncer (essa a única composição em parceria, com Fernando Calegari). Depois uma guinada com propriedade para o samba, que começa na bem elaborada Crime Passional, passa pelo “voz e violão” de Teu Quarto e termina de forma empolgante com Roupa do Corpo.

Na minha opinião, todas as escolhas feitas pelo artista foram acertadas. Poeta com letras viscerais, que falam do amor de uma forma pouco comum, Filipe Catto conseguiu intensificar o sentido das suas letras embalando canções ora no tango ora no samba. Aliás, o que há de mais visceral que Enrique Discepolo e Noel Rosa (para o meu gosto os melhores poetas dos dois gêneros e que, lembrando agora, alguém está devendo um artigo comparando os dois!)?
Portanto, resta a você leitor, que ainda não conhece o trabalho de Catto, baixar o álbum e prestigiar os shows do artista, um compositor de mão cheia que ilumina um céu pouco estrelado de trabalhos autorais do início ao fim.
(Texto de Ícaro Bittencourt, reproduzido do “Música Esparsa” com a devida autorização do autor)