Filipe e Moska cantando juntos “Adoração” no programa “Encontro com Fátima Bernardes” da TV Globo
FCEF -Você e arte. Como e quando aconteceu este encontro? O teatro veio antes da música?
PM – Não há um início…arte é vida. É uma relação que se dá a partir do seu contato com o mundo. Quando eu nasci havia muita música em casa e como sou caçula de 4 filhos, minha casa era um teatro de variedades. O irmão mais velho tocava violão e me ensinou uns acordes…a irmã me levou pro primeiro curso de teatro na CAL, onde me formei como ator. A música estava sempre junto, no violão que eu sempre levava comigo ou no “walkman” com fitas cassete com as canções que eu gostava.
FCEF -Como aconteceu sua entrada no grupo Garganta Profunda ?
PM-No meio desse curso de teatro teve uma apresentação do Coral A Garganta Profunda na escola… e eu fiquei louco, porque era um coral muito divertido e ao mesmo tempo profundo. O Garganta tinha uma performance cênica que logo me atraiu por juntar as duas práticas a que eu me dedicava: teatro e música. Logo após a apresentação fui falar com o maestro sobre meu desejo de entrar no grupo. O saudoso Marcos Leite tinha uma relação muito delicada com a música e regia a orquestra de vozes sempre sorrindo. Lembro de meu primeiro dia de ensaio, que ao ser perguntado se sabia ler partitura eu menti dizendo que sim…mas passei os ensaios todos “colando” de ouvido a minha voz na do outro e assim fui aprendendo a cantar no coro.
FCEF -Inimigos do Rei. Como foi participar e sua relação rock x MPB
PM- O Inimigos foi uma dissidência do Garganta Profunda, e nasceu no meio de um projeto do próprio coral que se tratava de formar pequenos grupos vocais com os 23 integrantes. Havia duplas, trios, quartetos, octetos…e naturalmente me juntei aos outros dois atores/cantores (Luiz Nicolau e Luiz Guilherme) que eu já havia conhecido na escola de teatro…nós costumávamos cantar na escadaria nos intervalos das aulas. Nos shows do Garganta o repertório sempre foi muito misturado: de Beatles ao Padre Antonio Vieira, passando por Roberto Carlos e Tom Jobim, depois Caetano e Stones, e desembocando nas marchinhas de carnaval do Braguinha. Me lembro de cantar uma ária imperial e de imitar instrumentos com a boca escritos nos arranjos. Nunca distingui muito Rock de MPB…pra mim é tudo música, canção…gosto dos dois com a mesma intensidade.
FCEF – Em 1992 você inicia sua carreira solo. Como foi tomar esta decisão?
PM- Após dois discos com a banda eu estava cheio de música autoral e decidi fazer um show paralelo pra experimentar…e adorei. No Inimigos eu não escrevia as letras e no primeiro show solo muitos amigos queridos vieram me falar das letras, da minha poesia…foi natural descobrir o próprio caminho.
FCEF – Onde você se sente mais confortável: como intérprete ou como compositor?
PM- Compor é maravilhoso…inventar uma canção que não existia é quase um poder mágico, de um super-herói dos quadrinhos, sei lá…é muito nutriente. Revitaliza. . Interpretar também é, de alguma forma, criar. Mas compor é um diálogo profundo consigo mesmo. É o mesmo que uma oração, mas que você inventa sempre uma nova…não é uma repetição…é uma continuidade da sua invenção.
FCEF – Quais são suas influências musicais?
PM- Hoje o que mais me influencia são as outras artes. A fotografia, o cinema, a literatura, a ciência, os filhos, o amor pela mulher…escuto pouca música em relação ao que eu ouvia na juventude…passava dias trancado no quarto ouvindo meus discos preferidos. Fico atento aos novos artistas que aparecem…a juventude é sempre mais corajosa e criativa.
FCEF – Como surgiu seu interesse pela música e pelos artistas Latino americanos?
PM – Uma fã que virou amiga me deu de presente um disco do Drexler e quando eu escutei foi como uma flechada de Cupido…eu compreendi pela primeira vez uma letra em espanhol. Era “La Edad del Cielo” (A Idade do Céu) e tudo que a canção dizia se encaixava perfeitamente na minha vida. Vitor Ramil foi quem me deu o contato dele, eu o escrevi contando a história da fã e sobre a versão em português que eu havia escrito. Dali começou uma amizade e surgiu uma série de convites dos dois lados para participações em shows…eu o trouxe pro Rio, pra São paulo…e ele me levou pro Uruguay, Argentina, Espanha. Aos poucos fui conhecendo outros artistas nessas viagens, como Kevin Johansen, Lisandro Aristimuño, Andrea Echeverri, Camila Moreno, Ximena Sariñana, Natalia Lafurcade e muitos outros…em mais de 10 países da America Latina. Meu interesse latino começou com essa amizade …Drexler me abriu uma porta que, ao entrar, me deparei com um povo muito parecido com o nosso, vivendo os mesmos problemas que vivemos. É uma grande tolice o Brasil ficar de costas para o continente.
FCEF -O Programa Zoombido no Canal Brasil. Como foi essa experiência? Ele vai continuar?
PM – O Zoombido é uma verdadeira “aula” sobre composição popular pra mim. Não é só um programa sobre música… é uma “vivência”, um encontro. Estive com mais de 250 compositores/cantores conversando sobre a canção, mas algo na forma em que é filmado e talvez no meu jeito de abordar a conversa acaba revelando um olhar diferente sobre o convidado. Eu me sinto muito privilegiado por esses encontros…porque quando eu era bem jovem eu pensava que era só eu cantar e tocar violão que eu seria amigo de todos os meus ídolos. Eu iria cantar com todos eles aquelas canções que escutei nos discos e fitas…nas rádios e nas tvs. O Zoombido é, de alguma forma, a realização possível desse sonho juvenil. Nunca sei se ele vai continuar…dependo do Canal Brasil. Mas dentro de mim ele já virou eternidade.
FCEF – Você já trabalhou em alguns filmes e séries de TV. Alguma novidade nessa área?
PM- Estou ensaiando um musical: Merlin. Meu personagem é o Rei Arthur e vou fundar a Távola Redonda cantando Raul Seixas.
FCEF – Qual foi a emoção ao ser enredo da Escola de Samba Unidos de Padre Miguel?
PM – Algo impensável e indescritível. Um filme de 360 graus em 3D…vida real…momento mágico e de muito agradecimento. E alegria, muita alegria.
FCEF – Você tem uma (ou duas já) parcerias com Filipe Catto. Como foi esse encontro de vocês?
PM – Filipe é maravilhoso, desde que o ouvi pela primeira vez já era evidente sua singularidade como cantor. Conhecer a pessoa doce e tranquila que ele é só nos aproximou ainda mais. Adoro a performance dele no palco, uma entrega profunda às canções. Temos duas parcerias…uma ainda está inédita…linda demais.
FCEF – Quais seus planos futuros?
PM – Estrear esse Rei Arthur e continuar a turnê do Beleza e Medo.
Moska em sua nova turnê – Beleza e Medo – Janeiro de 2019 – Foto de Juliana Britto.
Que lindo! Amo essa pessoa. É sempre interessante ouví- lo cantar, ouví-lo conversar ou em entrevistas. Ele é muito inteligente e especial.
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