Filipe por seus pares: Érico Baymma

 

20200417_221244

A primeira vez que tive contato com um clipe de Filipe Catto foi o “Redoma”. Este contato foi impactante a ponto de me deixar pensando sobre o que viria deste cantor tão especial. Não era possível retirar a “especiaria” de Filipe, eu já sabia. Voz precisa, com alcances firmes e altos agudos, mas não daqueles que vulgarmente ficam forçando atingir tão altas frequências para transparecer virtuose, geralmente do mundo lírico. Sua voz soa flutuando as notas da canção, neste clipe exposta em modo semi-acústico, cuja sonoridade me chamou a atenção. Achava que, de primeira, já estava resolvida a massa sonora que acolheria a bela voz deste grande artista. Sem dúvida, eu já sabia que havia um grande artista. Explico repetidamente tratar-se de um grande cantor e grande artista, pois a arte da música, em especial, exige um pouco de estrada e experiências sonoras para que o próprio artista se entenda mais confortável no ambiente sonoro, além de um conflito entre o que as gravadoras exigem, o que ele quer e o público deseja. E passei a ver alguns outros clipes, sempre com a maravilhosa sensação de estar vendo um artista pronto, coisa que é rara para quem sabe o que é o processo de auto-exploração que cada artista deve passar em sua jornada. Ainda refleti bastante se o que estava levando em consideração seria o suficiente para que estas afirmações fossem tão assertivas quanto gostaria que fossem.

Passei a procurá-lo para uma entrevista – dentro das que faço, exatamente no campo da percepção das coisas do mundo que explora um artista em sua área. Ele já havia assinado com a Universal e estava lançando seu cd e dvd, o que requer muito tempo de trabalho e pouco tempo disponível, os quais geralmente são administrados pela equipe de divulgação da gravadora a que está vinculado.
Foi então que ele veio a Fortaleza pela primeira vez, em um palco bem legal, da Caixa Econômica Federal, que passou a concentrar as grandes atrações do país. Após a maravilhosa apresentação, esperei que ele falasse com cada um dos fãs que estavam lá, devidamente ardorosos pela grande figura que é o Filipe. Após algum tempo e os fãs o liberarem, conversamos um pouco. Tive uma surpresa agradabilíssima pela postura humilde com que ele já veio perguntando sobre o que eu havia achado do som que estava fazendo, agregando mais guitarras a seu som. Claro que esta postura me encantou, raros são os artistas que colocam suas dúvidas “estruturais” assim a uma pessoa “que o segue pelo facebook”. Claro que concordei que ele estava fazendo experiências, e que as guitarras tinham caído bem desde que ele se sentisse confortável. Falei sobre minha expectativa de algo mais semi-acústico, mas que minha surpresa tinha sido super-positiva e desejei tudo de muito bom para sua estrada. Nos abraçamos sabendo, com pena, de que meu contato com seu trabalho seria muito mais virtual do que uma carreira que eu pudesse seguir mais de perto.

Sempre pensei que o último “David Bowie” que tínhamos em nossa música era o Ney Matogrosso e sentia falta desta pessoa que assumisse persona ou personas. Eis que Filipe começa suas experiências visuais na formação de novas autoimagens. E o assisti novamente no “Canta Cassia Eller” em que cresceu demais com a homenagem e novas versões das canções que nossa Cássia interpretou.

Considero Filipe Catto um dos grandes artistas próprios para a contemporaneidade. Sua personalidade artística poderia ser meio underground, mas ele traz tanto em suas performances que ele habita diversos espaços sem precisar estar preso a um estilo e revoluciona em sua necessidade de procura, uma inquietação benéfica para o cenário musical que se acomodou tanto por tanto tempo. Gostar de Filipe Catto é gostar de arte, em movimento sempre, e é o que desejo que ele faça: explore todas as suas possibilidades, já que é um complexo de possibilidades positivas com muito a fazer. Inteligente, sensível, preocupado com as questões sociais, é uma pessoa que só tem a se desenvolver e nos entregar mais e mais preciosidades. E que assim seja!

Érico Baymma é artista e mora em Fortaleza, CE.

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Twitter picture

You are commenting using your Twitter account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s