Ela foi contemporânea de Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro, mas nunca teve o seu talento reconhecido como os seus conterrâneos. Nascida em 1894 em Vila Viçosa, região do Alentejo, Florbela Espanca foi uma das primeiras mulheres portuguesas a frequentar o curso secundário, tendo depois cursado Letras e Direito, mas não chegou a concluir o curso. Mais tarde trabalhou como professora particular e como tradutora. Sem precisar levantar a bandeira do feminismo, foi uma mulher à frente de seu tempo. Casou-se três vezes, teve amantes e sempre tratou os homens como iguais. Se auto intitulou poeta quando ainda só se usava poetisa, no feminino.
Florbela foi uma mulher infeliz, de saúde frágil, temperamento muito intenso e um amor imenso ao seu irmão. Tanto que sua fragilidade emocional não resistiu à morte dele e com apenas 36 anos, se suicidou no mesmo dia de seu aniversário, 8 de dezembro.
Os versos de Florbela são extremamente líricos e carregados de melancolia. Falam de um amor impossível e idealizado, mas também soube exaltar sua terra natal. Começou a escrever aos 8 anos de idade e teve livros lançados postumamente.
Uma das característica da poesia de Florbela é sua extrema musicalidade. Assim como Filipe Catto descobriu António Variações em sua viagem à Portugal, o cantor e compositor cearense Raimundo Fagner descobriu Florbela Espanca em uma viagem à Lisboa, no início dos anos 80 e ficou tão fascinado pela obra da poeta portuguesa que musicou vários poemas, todos de uma beleza incrível e que viraram excelentes canções. São eles: Fumo, Fanatismo, Tortura (gravada por Cauby Peixoto), Chama quente, Frieza (gravada por Amelinha), Impossível (gravada pela cantora espanhola Ana Belém) e Soneto 1 , apêndice de “Charneca em Flor”.
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui e além…
Mais este e aquele, o outro e toda a gente
Amar! Amar! e não amar ninguém
Recordar ? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender ? É mal ? É bom ?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente
Há uma primavera em cada vida
E preciso cantá-la assim, florida.
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada
Que me saiba perder…pra me encontrar…
Alguns artistas portugueses também transformaram em canções os belos e sentidos poemas de Florbela Espanca. Mariza foi uma delas.