Papo Afinado: Filipe Catto!

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Foto de Lucas Silvestre

E para iniciar os trabalhos de 2017, FCEF teve o prazer e a alegria de conversar com… Filipe Catto! Mais uma vez, agradecemos ao Filipe por toda disponibilidade, atenção e carinho com que nos recebe toda vez que é solicitado. Desejamos a ele um ano pleno de colheita de luz. Valeu muito, Filipe!

FCEF – 2016 foi um ano em que você dividiu o palco com vários artistas. Como foi a experiência? Trabalhar em conjunto funciona bem?

FC – Em 2016 eu contei com um monte de gente que eu gosto demais! Eu acho que a música é um exercício muito conjunto. Eu não consigo ver a música como uma coisa “minha”, que eu faça sozinho ou que parta só de mim. Cada vez mais eu vejo que o fluxo musical que existe entre eu e a banda, equipe, o público, também foi desaguando para esses encontros com outros artistas. Eu sinto que esses encontros foram me amadurecendo muito, foram trazendo nuances do meu trabalho muito importantes e, principalmente o prazer de cantar junto. O prazer de abrir voz, de estar diante de outro artista, olhando nos olhos dele e podendo cantar aquela canção, fazendo aquela música respirar, fazendo com que ela cresça mais. Tudo que eu faço musicalmente é para atingir este ponto do encontro. E hoje, poder ter estas pessoas na minha vida e no meu trabalho é uma grande conquista.

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Foto de Lucas Silvestre

FCEF – Você percebeu se conquistou novos fãs com o público desses outros artistas com quem trabalhou?

FC – Eu percebi que sim. É normal que o público se expanda. Sinceramente não sei dizer se teve muito ou não, mas eu acho que qualitativamente sim. Entrar em contato com o público de outros artistas é muito bacana porque a gente acaba… a verdade é que a gente tem públicos muito parecidos, então é muito legal que o meu público conheça gente nova e as pessoas conheçam o meu trabalho. Esse giro, este fluxo é muito legal. Especialmente em outra área que não é exatamente esta. Quando a gente vai fazer festival é mais ou menos este raciocínio, de você apresentar o seu trabalho. Eu ainda estou muito no começo da minha carreira, então acho que tudo que for para espalhar a música é bom e todas as respostas tem sido muito positivas, graças a Deus.

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Foto de Georgia Branco – Show Ascensão – Direção e Concepção de Ricky Scaff – Baseado em roteiro de Serena Assumpção

FCEF – Como você se avalia hoje? Teve algo neste ano que termina que você gostaria de ter feito e não fez?

FC – Não tenho nenhum arrependimento. Acho que a vida é do jeito que é e temos que ser gratos a ela a todo instante. Estou muito grato por este ano. A energia que foi movimentada neste ano foi muito linda e fiquei me sentindo muito satisfeito, muito grato agora no final do ano. Poder olhar e perceber como fui presenteado com esta turnê, com os shows, com os encontros, com os amigos, com as mudanças… Eu acho que isto é tão importante. A vida é tão linda para que ela fique parada sempre no mesmo lugar, né?! Então eu estou muito feliz de ver o que aconteceu, o que vem acontecendo comigo. Não só comigo, mas com os “meus”, com os que estão perto de mim. A mudança é vertiginosa em todos que estão perto de mim, então isto me deixa muito feliz porque esta energia de mudança é sempre muito poderosa e faz muito bem pra gente.

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Foto de Erick Figueredo

FCEF – Todo artista de palco é um texto. Nada está ali por acaso. Você mudou muito nos últimos meses. Tanto sua postura de palco, quanto seu figurino. Que enredo você quer nos contar? Ou é apenas seu amadurecimento?

FC – Não tem um subtexto. Eu não sou uma pessoa que tem muito este discurso. Não tenho nenhuma necessidade de fazer isto para os outros. Pelo contrário, para mim, não é uma mudança, é um florescimento. Estava tudo ali, sempre esteve tudo ali. Fechado. Quando floresceu isto tudo, floresceu junto com o meu prazer de fazer as coisas. Eu sinto que estou muito mais aterrado no momento presente. Estou mais aterrado no meu palco. Estou muito mais feliz de ser quem eu sou. Gosto muito mais de quem eu sou. Estou muito feliz de ter encontrado uma rotina saudável de exercício físico que me deixa muito feliz. Isto mudou o meu corpo para melhor, mas como uma consequência de rotina de exercício físico e de alimentação super bacana que eu gosto de viver. Então a minha vida pessoal começou a mudar muito e isto mudou tudo dentro de mim e muda no palco porque, de repente, eu estou me vendo de uma forma que eu gosto de me ver e isto é muito poderoso porque liberta o seu corpo. E a música é uma coisa física. É um processo que parte do corpo. Ela precisa de um corpo forte para acontecer, de uma forma bacana também. Pelo menos para mim, que gosto de cantar desta forma. Então a principal coisa que aconteceu foi essa rotina, foram esses novos hábitos que acabaram fazendo com que eu me descobrisse de uma forma muito surpreendente e gostasse muito de ser quem eu sou. Isto refletiu no meu palco. Um processo muito interno.

FCEF – Existe uma estética, um movimento queer, que chegou ao Brasil nos anos 2000, e que se reflete muito em um segmento da música feita hoje no país. Você leu algo sobre isto, acha que seu trabalho, de alguma forma, tem a ver com este perfil? Qual o impacto da representatividade LGBTQ+ na música e na nossa sociedade?

FC – Eu acho isto genial. Já existe mundialmente esta questão. Eu acho que a gente, que sempre lutou tanto pelas questões LGBT, acho que estamos dando um grande passo neste sentido nos últimos anos. É um passo de muita coragem também porque a gente vivia na sociedade, mas sempre com aquela coisa de ter que se esconder, ter que se neutralizar para poder se misturar na sociedade. A gente tinha que ficar camuflado e era tudo mais fácil, para os outros, né?! Agora existe uma celebração deste movimento, da identidade queer que é muito forte e eu gosto muito disto. Acho que temos que nos agarrar com unhas e dentes nisto. Existe uma estética, mas é muito natural. O mundo se tornou mais queer a partir dos anos 2000 por causa da Internet. Estávamos vivendo uma descoberta sexual na época que estavam descobrindo os computadores, falar pela Internet, ouvir músicas. Toda uma rede de comportamento, de filmes que a gente não teria acesso se fosse em outro momento, então acho que isto uniu muito também. Lembro quando eu era adolescente que rolava uma identificação com as pessoas, existia um novo tipo de vida gay, a partir da Internet. Bem diferente de como era antes. O que está acontecendo agora é o amadurecimento desta cena que cresceu, com o Orkut, MSN, ouvindo música eletrônica, alternativa. É um lugar que é alternativo, não é exatamente mainstream e também não é clichê. Eu me sinto parte pessoalmente, não sinto que isto é o meu trabalho. Sou um intérprete. Estou neste momento da minha vida e vivendo isto porque este é o meu momento no mundo, mas eu acho que a minha música em si não tem exatamente a ver com isto. O meu corpo tem a ver com isto, a minha presença, o meu lugar no mundo tem a ver com isto, mas a música, que é a parte mais essencial, não tem necessariamente a ver com isto. A música que eu faço tem apenas a ver com o que eu estou sentindo mesmo. Mas existe sim este movimento e estou aqui para, felizmente, vivê-lo junto com estas pessoas.

FCEF- Você se incomoda com as opiniões e até críticas que às vezes aparecem nas suas redes sociais sobre o seu figurino, seu corte de cabelo e coisas deste tipo?

FC – Eu não leio o que escrevem. Eu não posto as coisas e fico atrás vendo o feedback. Depois de dias é que vou ver quantas curtidas teve, estas coisas. Eu realmente estou bem ocupado vivendo… (risos) e trabalhando, porque eu não tenho tempo de ficar alimentando estas coisas. Eu alimento minhas redes sociais e gosto de fazer isto, mas não vivo para as redes sociais nem por um cacete. Nem pensar!

FCEF – Você tem planos de algum dia fazer uma exposição ou até mesmo um livro com seus desenhos, pinturas e outros trabalhos ligados às artes plásticas?

FC – Até teria, mas se eu tivesse um trabalho que eu visse que cabia exposto. Acho que a minha relação com o desenho, com esta criação é muito íntima, muito pessoal. Eu gosto de fazer, de tirar uma foto e postar para as pessoas, mas eu não sei se eu exporia agora. Se eu tiver, em algum momento, um trabalho que eu sinta que tem maturidade suficiente para ir para uma galeria ou para ser exposto de alguma forma, virar alguma coisa, eu faria sim, com certeza. Não tenho problema nenhum, mas não é o meu plano. Gosto de desenhar mesmo por prazer, por esporte.

FCEF – Tomada foi lançado em setembro de 2015. Temos aí um tempo de estrada. Você pretende ficar com este repertório por quanto tempo ainda? O formato atual é o definitivo ou Tomada ainda está em construção?

FC – O Tomada vai continuar, sim. Vamos continuar com ele até o próximo disco. Esta turnê está indo muito bem. Estou muito feliz de fazer o Tomada. É um show que me satisfaz, em todo os lugares. Tem tudo que eu gosto. Ele tem rock, tem drama, ele é emocionante, é extremamente conectado, ele é sensual. Eu gosto disto neste show. Acho que ele me traduz muito bem. Este repertório chegou a um ponto que me traduz muito bem. Vou continuar com o Tomada até que a gente lance um próximo trabalho e neste meio tempo, claro, sempre vão aparecer novas coisas, vão surgindo novos shows, novas participações. Este ano vai continuar sendo o Tomada e já tem várias apresentações marcadas. Estou bem feliz com esta turnê e quero continuar fazendo até que outra coisa se anuncie pra mim, mas, por enquanto, é isto que estou fazendo e estou amando fazer.

FCEF – Sua trajetória mostra que você é um artista que gosta de experimentar, quer buscando outros compositores, quer escrevendo suas próprias canções. Em Tomada você privilegiou o intérprete. Como está o seu trabalho autoral?

FC – Meu trabalho autoral está incrível, sempre esteve. Eu nunca parei de escrever. Eu não fiz o Tomada como intérprete, não porque eu não tinha músicas. Eu sempre tive muitas músicas. Eu continuo escrevendo bastante, eu gosto. Estou escrevendo em parceria com várias pessoas, fazendo coisas super legais, experimentando várias formas de compor que eu ainda não tinha experimentado, então eu tenho este material que é meu, mas quando a gente vai gravar um disco a gente quer contar uma história, quer contar alguma coisa e quando eu fui gravar o Tomada, eu senti que era importante eu contar a história através destes autores também e de firmar este papel. Bem ou mal é isto, é uma questão de definir mesmo quais são as suas prioridades. Eu adoro compor, eu amo compor, tenho várias composições, mas eu sinceramente não consigo não ir atrás dos compositores, não ouvir coisas, não me fascinar, porque o meu veículo é a voz. O meu tesão é cantar. Eu gosto de cantar, de botar aquela coisa pra fora. O meu tesão é fazer a coisa acontecer através de mim. Então tem músicas minhas que fazem muito sentido eu cantar no palco e tem outras que não. Se eu tenho que optar entre uma música minha que eu não tenha tanta conexão naquele momento e uma música de outro compositor, que eu tenha muita conexão naquele momento, eu sempre vou preferir a música que eu estou mais conectado, independentemente de quem é o compositor, se sou eu ou não. Isso pra mim é indiferente. Eu, intérprete, olho para a minha safra autoral como eu olho para a de outro autor. Eu não olho para as minhas músicas como especiais, de preferência ou com algum apego porque eu acho que o meu repertório tem que ser construído de uma forma que traga coisas diferentes e tenha este nível de cumplicidade com as músicas, que às vezes, não necessariamente sejam só as que você escreveu. É o momento de cada um. Eu gosto de deixar estas portas abertas. Ser intérprete me liberta. Eu consigo fazer o que eu quiser e eu gosto demais disto.

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Foto de Lucas Silvestre

FCEF – Nos seus shows você vem expondo, cada vez mais, sua opinião sobre temas difíceis: política, questões sociais, preconceito. Você acha que a arte também tem este papel?

FC – Eu acho que eu não ia não conseguir falar sobre estas coisas. Eu sou uma pessoa que vive o mundo em que estou. Estou dentro dele. Não estou fora do mundo, no meu castelo, olhando… Não, estou aqui mesmo, junto das pessoas, de todas as questões que estão sendo debatidas e elas me afetam muito. As questões dos direitos humanos, de igualdade… a gente luta tanto por isto, a gente quer tanto isto, a gente já vem conquistando tantas coisas. Eu não consigo não falar sobre estas coisas, porque elas são a minha vida, eu vivo isto. Então não poderia não me posicionar. Já deixei de fazer várias coisas em função desta posição. Eu gosto muito, tenho muito orgulho de poder viver hoje, com 29 anos de idade, de acordo com os meus valores. Eu acho que a construção dos valores que a gente tem é uma coisa muito importante quando a gente pode olhar pra eles e gostar do que a gente está vendo e saber que estamos vivendo valores interessantes, bonitos, eu acho que não tem como voltar atrás. Estar no mundo, hoje, para mim, é um exercício maravilhoso de viver estes valores e estar sempre tentando me conectar com as coisas mais lindas e transformadoras que possam existir e, através disto construir o meu trabalho, a minha música, através disto conseguir encontrar as pessoas para que a gente consiga, juntos, transcender a parte ruim e focar na parte boa e só vibrar nesta parte boa, sabe? Está tendo muita coisa legal no mundo também. Tem muita coisa legal. Então é aí que eu quero estar. Quero estar vivendo o mundo de uma forma legal, de uma forma alegre, mas sempre com muita força para lutar.

FCEF – O que seus fãs podem esperar de surpresas para 2017?

FC – Surpresas são surpresas e vou surpreender bastante em 2017, podem ter certeza! Vão ser várias surpresas. Não sei nem dizer quais, porque eu realmente não sei. Eu quero me surpreender também com as coisas que acontecem e quero que isto seja uma surpresa para as pessoas. Mas com certeza vamos fazer muitas coisas diferentes, coisas novas, porque a vida é assim!

6 Comments

  1. Arrasou Filipe. seu amadurecimento como ser humano foi grande e, no palco sentimos isto. Estamos esperando muitas surpresas para o ano.Felicidades meu artista preferido!

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  2. Ah!Filipe, você deixa a música respirar, seu corpo canta, você vive de acordo com os seus valores, quer viver as boas coisas do mundo, com alegria e força pra lutar.

    Tudo isso lhe dá o melhor que um artista pode ter! O melhor da Pessoa que você é.

    E assim as coisas junto com você e por causa de você se transformam sempre em algo melhor.

    Estar no mundo acompanhando o seu trabalho, sentido esse seu ser transbordante, autêntico e atento à humanidade é algo especial.

    Você revisa o passado, reinventando-o, encanta o presente e faz nascer o futuro!

    Parabéns por tudo e obrigada por isso e muito mais!

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  3. Minha amiga após assistir o show de Filipe em Belém, falou: – Filipe Catto canta com a alma, com o corpo, pra vida. É tanta emoção que sentimos ao ouvir esse tão talentoso e maravilhoso, cantor, compositor, instrumentista. Que não cabe na gente, essa emoção tão intensa, ela simplrsmente transborda. Por isso, sempre digo, impossivel não amar Filipe Catto.

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  4. Que amor esse Papo Afinado com o Filipe !!! Que venham as surpresas !!! FCEF Parabéns por essa matéria linda com o Filipe e com todo esse carinho , amor e cuidado que vocês tem em compartilhar o trabalho do Filipe , Amo Muito!!!!<3<3<3

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