Memória: Elis Regina

12476167_10153992892993535_1843350826_n
Foto de Klaudia Alvarez – Imagem em exibição na Sala Elis Regina – Casa de Cultura Mário Quintana – Porto Alegre – RS

Hoje ela completaria 71 anos de idade. Aqui, os sentimentos de cada um de nós.

Elis, em sua última entrevista, em 05/01/82, para o programa Jogo da Verdade, foi questionada pelo jornalista Salomão Esper, logo no início,sobre até que ponto seria honesto esse “jogo da verdade” proposto pelo programa., ao que ela responde:”até o ponto em que alguém possa ou ache que deve se desnudar completamente perante as pessoas.”

E a arte, aquela mais pura, só se encontra no tutano, não há imitação na arte verdadeira. Elis desvestia-se das artimanhas do que até ali era apresentado como ” ser cantora”; ela recriou  a forma de cantar. E o que ela fazia nos palcos e na vida era arte, já que rompeu paradigmas com sua forma de lidar com a música e na forma de ser mulher em uma sociedade machista. Com ela era tudo ou nada. A música passou de uma simples canção (para dançar ou se apaixonar) para outro nível:era poema musicado que corria das veias dos pés às pernas, que passava pelo coração e percorria seu caminho para o pensar. Há integração, de corpo e alma, com a música e com a intérprete. Por isso fez parte de nossa vida. Ela cantava, mas também articulava: foi professora dos e nos palcos. Uma pequena mulher fez uma revolução no pensamento dos ouvintes.

E, esse dom somado à irreverência, às frases de efeito, à inquietude, fez dela a Pimentinha, mulher lembrada pela força da voz e da vida, que tanto faz falta nesses dias, já que o artista é a voz da multidão.

Filipe, que é o motivo maior dessa “Zine”, é fã de Elis, e suas apresentações são extremamente significativas quando relacionadas ao estar por inteiro, desnudo, perante a plateia. Ele mesmo afirma que tem Elis como tutora, o que, para nós, seus fãs, representa uma certa perenidade da arte de Elis em nossos tempos.

Texto de Mari Almeida 


Aviso aos navegantes:este texto contém palavras de puro amor, nutrido por essa que foi uma das melhores cantoras do mundo. Aqui, quero descrever um pouco da minha fascinação por essa mulher. Para redigir esse texto, passei por altos e baixos. Ah, vai ser fácil escrever sobre Elis. pego papel e caneta e nada sai. Amanhã eu tento novamente. Escrevo um , dois, três parágrafos, mas nenhum bom o bastante. Ih, meu Deus do Céu! É o último dia para enviá-lo. Começa a bater o desespero. tento começar de novo e vem as primeiras lágrimas. Não vou conseguir. Paro, respiro, me visto com onze fitas e com a velha roupa colorida para buscar inspiração.

Agora, tá. Vamos falar de Elis. Ela tinha as características das pessoas que mais admiro no mundo. Pessoas que sabem a fórmula do sucesso, mas se recusam a ficar em sua zona de conforto e sempre estão em busca do novo, sem perder a sua essência. Ela também tem a capacidade de tocar a minha alma só com a voz. Foi uma mulher, artista e cidadã maravilhosa. Não era perfeita, mas quem é? Sua música é atemporal, ideal para se ouvir conversando no bar, numa casa no campo, na estrada do sol, em outro cais ou até em uma nova estação, quem sabe? Sua voz me acalanta, me acalma, me alegra, ah essa menina essa mulher essa senhora em que esbarro toda hora fez e faz parte da minha vida.

Considerações finais: amo de coração toda a sua discografia, até mesmo o Viva a Brotolândia que ela tanto odiava, mas o meu predileto, aquele que eu coloco para tocar, fecho os olhos e me deixo levar é o Falso Brilhante e que ocupa o seu lugar no hall dos discos da vida.

O livro Nada será como antes é ótimo para entender um pouco o que foi o furacão Elis, mas prepare-se. Ele te faz chorar, e muito. Digo por mim, que chorei no início, meio e fim. Mas não se preocupe, você vai rir também. Escolher somente uma música preferida é impossível. Algumas das minhas estão espalhadas por esse texto e vou citar mais algumas aqui: Canto de Ossanha, Você, O medo de amar é o medo de ser livre, Sai dessa, O Trem Azul, Bala com Bala e a que eu amo forte: Cartomante. Se me dessem uma máquina do tempo e pedissem para eu escolher um ponto da História para reviover, com toda certeza escolheria qualquer show da Elis. Não ter tido a chance de vê-la, ao vivo, é algo com que eu não sei lidar. Para finalizar, um trecho de Amor até o fim para Elis: “Até o fim eu vou te amar. Até que a vida em mim resolva se acabar.!

PS. Elis vive!

Texto de Emilly Luciana Barbosa


Se, nos dias de hoje, a gente encontra quem não curte Elis Regina e, até quem não conhece Elis, imaginem nos anos 70.

Desde criança minha mãe gosta muito da Elis, a voz dela a emocionava. Naquela época, não era comum uma criança gostar do tipo de música que Elis Regina cantava, principalmente numa cidadezinha como Cananéia. Achavam minha mãe esquisita por causa disso.

Na casa dela tinha um rádio bem antigo da Motoradio, e ela ficava ouvindo, esperando que tocasse alguma música de Elis. A preferida era “O Bêbado e a Equilibrista” (ainda é). Quando Elis morreu, minha mãe tinha 10 anos, e foi pelo rádio que ela soube. O Eli Correia deu a notícia no programa dele. Minha mãe chorava tanto… E vovó mandava ela largar a mão de ser boba e parar. Como não tinha TV em casa, era na casa dos outros que minha mãe via as notícias sobre Elis. A comoção que sua morte causou, a trajetória de vida, as homenagens.

Eu soube dessa história há pouco tempo, mas sempre soube que minha mãe gostava muito da Elis. E isso me influenciou um pouco. Digo um pouco porque eu ouvia, gostava, mas nunca fiz pesquisa sobre a Elis pra saber de sua trajetória, conhecer todas as suas músicas.

No primeiro show do Filipe que fomos, minha mãe disse que ele lembrava muito Elis Regina no comportamento e no jeito de cantar. (Eu nem ouvi, estava muito compenetrada no show). Conforme o tempo foi passando, eu fui conhecendo melhor o jeito da Elis e comecei a perceber as semelhanças…

Depois que conheci Filipe Catto, meu horizonte musical se expandiu. Eu passei a prestar mais atenção nos novos cantores, nos nomes dos compositores, comecei a ouvir mais MPB e a pesquisar a respeito dos artistas que Filipe e meus amigos gostam. Enfim, por isso comecei a escutar mais Elis Regina e a ver seus vídeos.

Elis Regina, a Pimentinha, era uma mulher batalhadora e de personalidade forte. Fazia as coisas do seu jeito e falava o que tinha vontade. Criticava duramente a ditadura militar. Defendia os direitos dos músicos e intérpretes. Ela fundou a ASSIM (Associação de Músicos e Intérpretes). Uma mãe dedicada e apaixonada pelos filhos. Desistiu de fazer carreira internacional, embora já fosse internacionalmente conhecida, porque não aguentou a saudade dos filhos. Ela era encantadora e arrebatadora como pessoa e como cantora. Sua voz única emocionava (e emociona)! Seu jeito de interpretar as músicas era singular, autêntico. Elis deixava sua marca nas músicas que interpretava. Alguns compositores ficavam até receosos em gravar suas próprias canções depois que Elis as interpretava. No entanto, ter música cantada por Elis Regina era muita sorte, porque virava sucesso e dava visibilidade ao compositor.

Filipe Catto é o único artista que canta Elis Regina e me faz lembrar dela em seu jeito de interpretar. Fazendo com que eu me emocione profundamente. Aliás, até quando não está cantando Elis, em muitos momentos eu percebo semelhanças. Eu fico imaginando como seria um dueto entre os dois. Imagino a emoção que seria e como seria lindo.

COMO OS NOSSOS PAIS eu, hoje, tenho FASCINAÇÃO por Elis Regina. ESSA MULHER, avassaladora e encantadora é como ÁGUAS DE MARÇO, vem forte. Seu canto bate na alma da gente e toma nosso coração, fazendo transbordar a emoção. SENTIMENTAL EU FICO. REDESCOBRIR Elis Regina é como entrar em uma TRANSVERSAL DO TEMPO, tempo que passou, mas não levou o canto de Elis Regina.  Ele está sempre presente em nossas vidas, cada vez mais forte, cada vez mais atual. Elis cantou e encantou. Depois de Elis Regina NADA SERÁ COMO ANTES na música popular brasileira. Com esse CARINHOSO texto deixo aqui a minha homenagem à nossa querida Pimentinha.

“Eu não vejo graça em outras coisas, como eu vejo em cantar.”

(Elis Regina 1945 – 1982)

Texto de Francielle Flores


Escrever sobre Elis não é algo fácil, estamos lidando com a maior cantora brasileira de todos os tempos, sobre a qual muito já foi dito, muito já  foi especulado, porém é extremamente encantador poder, nessa data tão especial,  falar com ênfase dessa mulher que emocionou o Brasil e que ainda é a maior.

Elis não só cantou, também encantou, sei o quanto isso soa clichê, mas é uma verdade incontestável. Ela  reinventou o modo de fazer música no país, levou a música brasileira pra fora e fez com que a MPB fosse um dos gêneros musicais mais respeitados do planeta.

Elis, mãe, mulher, filha, cantora, a voz de uma geração inteira e de diversas outras que virão e que verão o quão fundamental ela é. Eu sou um escritor suspeito para falar sobre esse assunto, pois confesso ser completamente apaixonado, pela cantora e pela pessoa, acabo de ler a biografia “Nada Será como antes” do Júlio Maria e ali perdido entre choros e risos me via mais um pouco apaixonado.

Bom, não posso e não quero me alongar, mas quero dizer meu muito obrigado por toda a obra deixada de herança, e que sem ela a música brasileira atual não seria tão linda, obrigado pelos filhos maravilhosos que você nos deixou e que representam muito bem nossa MPB .

Obrigado Elis

Eternamente em nossos corações e em nossos iPods, rs

“Agora, o braço não é mais o braço erguido
num grito de gol
Agora, o braço é uma linha, um traço,
um rastro espelhado e brilhante
E todas as figuras são assim:
desenhos de luz, agrupamentos de pontos,
de partículas, um quadro de impulsos,
um processamento de sinais
E assim dizem, recontam a vida…

Agora retiram de mim a cobertura de carne
Escorrem todo o sangue
Afinam os ossos em fios luminosos; e aí estou:
Pelo salão, pelas casas, pelas cidades
Parecida comigo
Um rascunho
Uma forma nebulosa, feita de luz e sombra
Como uma estrela
Agora, eu sou uma estrela.”

(Elis)

Texto de Gustavo Henrique


ELIS, ELIS

Elis, que difícil tarefa escrever sobre você. Eu era muito jovem quando você já era uma cantora reconhecida e minha praia musical era outra.

Só depois da sua morte é que percebi sua grandeza.

Como sempre, sou pega pelas coisas que falam ao coração. Por isso, fiquei muito triste por seus filhos terem ficado sem você tão crianças e mais ainda por você não poder vê-los crescer.

Que triste!

A partir daí seu repertório passou a fazer parte da minha trilha sonora e eu me surpreendi. Você me arrebatou com seu canto, sua entrega.

Você tinha encontrado o casamento perfeito com a música. Nada nem ninguém conseguiriam substituir tamanha harmonia e cumplicidade.

Mas, como nada é perfeito. Somos humanos e incompletos, incoerentes, egoístas. E você era tudo isso. Só que não podia ser, pois era uma estrela, uma artista e, como tal, deveria ser um exemplo para aqueles que te admiravam. Como se não pudesse ser humana.

E quando expunha suas fragilidades, era condenada e jogada às bruxas.

Que difícil viver assim entre a explosão de sentimentos e um padrão a ser seguido.

Por isso, esse coração desandou e você partiu, nos deixando um pouco órfãos também.

O que nos acalenta é que você é uma artista única que deixou uma obra belíssima ao alcance dos nossos ouvidos e da nossa imaginação.

Você vive em cada coração que se atreve a deixar a emoção transbordar ao escutar qualquer canção imortalizada por sua voz.

Elis, você vive!

Viva Elis!

Pra Sempre.

Texto de Christina Elói


 VOZES DO ENCANTAMENTO

Março, mês de aniversário de Elis, mês das águas que gotejam e que fluem deixando os ouvidos em estado de atenção. Lembrar Elis, nesse mês, é saber que as “Águas de Março” vão além de março, atravessam os anos e escorrem, antes de mais nada, nas veias de muita gente cujo coração assume uma outra cadência: aquela que traz muito mais fôlego para a vida quando o ar parece escasso. Elis e suas interpretações musicais promoviam um “Arrastão” para viver a verdade das coisas até o fim. Com a sua voz, a sua presença sempre marcante, o seu riso, o seu gargalhar, ela se transportava aos lugares supostamente inacessíveis da existência humana e todos que a ouviam acabavam por acompanhá-la, provando do prazer de conhecer e revisitar esses lugares. Elis tinha a voz do encantamento. Não exatamente o encantamento dos contos de fada, mas aquele que permite, de novo e sempre, o fluir das águas. Ela se foi mas não saiu do mundo de quem a ouviu. Além disso, é capaz de se instalar no mundo de qualquer um que tenha a oportunidade, pela primeira vez na vida, de ouvir o seu cantar tal “Como os Nossos Pais”. Se ela não tivesse nascido talvez o véu da ignorância ainda encobrisse a visão daquilo que ela, de uma forma única, desvelou e que parecia inacessível através da voz, dos sons, das palavras e dos tons.

Elis trouxe “Fascinação” com o seu “Canto de Ossanha” e como numa “brincadeira de roda” deixou a memória de todos nós impregnada do “do gosto e o do sabor da festa”. Produziu, enfim, uma magia para propagar outras vozes além da sua.

Na atualidade, lembrar de Elis implica ressaltar outro talento que é único e, ao mesmo tempo, tão semelhante ao dela. Refiro-me a Filipe Catto.

Exatamente ele cuja voz hipnotiza e nos arrasta por “Dias e Noites” através de um canto cujo encanto requer “Um Milhão de Novas Palavras” para ser descrito. Filipe Catto, ao seu modo, visita os mesmos tons de Elis e vai fundo nos seus mergulhos musicais, tomando fôlego e tirando o nosso com maestria, ternura e firmeza. Em uma de suas entrevistas, ele declarou que quando ouve Elis, uma de suas influências, para tudo o que está fazendo e se concentra só em ouvi-la. Preciso dizer que ao vê-lo fazer essa declaração, pensei: “…tudo principia na própria pessoa, beleza!” Com Filipe Catto algo de novo na música popular principia porque “pele que é pele não mente, não esconde, não dissimularia”. Filipe Catto transpira talento, inspira poesia, semeia afetos e abraça a liberdade de viver e de cantar. Definitivamente, é alguém que chega no cenário da música popular imprimindo o “suor do corpo na canção da vida”.

É bem possível que algumas pessoas achem que eu esteja exagerando nos meus comentários sobre eles, tão comparáveis quanto diversamente iguais: um paradoxo, quase mistério! Gostaria, porém, de dizer que, caso eu tenha deixado a alguns a impressão do exagero, isso se dá porque, tal como numa das maravilhas trazidas por Milton Nascimento “…há canções e há momentos que eu não sei como explicar em que a voz é um instrumento” que vai ao “infinito” e “amarra todos nós”. Assim, sempre que ouço Elis ou Catto apenas constato que eles cantam canções e momentos em que “…a voz vem da raiz”. Eu não sei dizer se eu percebo isso quando eu estou triste ou quando estou feliz, tudo que sei é que “…há momentos que se casam com canções” e ambos, Elis e Catto, assim como Milton (não poderia deixar de fazer referência a ele que com Elis compartilhou canções) fazem desse casamento uma profissão de viver com arte e muito amor.

Texto de Maria Betânia Silva


Tudo que se podia dizer sobre Elis Regina como cantora já foi dito.  Mas a maior intérprete que o Brasil já teve não era apenas isso. Entre tantas qualidades , uma que eu gostaria de destacar era a habilidade que ela tinha em descobrir novos compositores e não poupar esforços para que eles fossem conhecidos.  Grandes nomes de nossa música conseguiram ter suas canções conhecidas e seu talento  reconhecidos graças à ela. Foi Elis quem primeiro apresentou Tim Maia em um disco. Ele foi seu convidado no LP “Em Pleno Verão”, de 1970,  em que canta a faixa “These are the songs”.

Outro nome  muito conhecido hoje, mas que se não fosse por Elis, talvez tivesse tido uma trajetória diferente é o cearense Fagner.  Em 1971, recém chegado ao Rio de Janeiro e sem ter sequer onde morar, teve não apenas canções suas cantadas por Elis em um show no Teatro da Praia, como também sua canção Mucuripe, uma parceria com o conterrâneo Belchior, incluída no disco Elis, de 1972.  Como se não bastasse isso, Elis ainda hospedou Fagner em sua casa por vários meses.  Ainda nesse disco de 72, ela também gravou “Casa no Campo”, a parceria de Zé Rodrix com Tavito , além de outra canção de Rodrix, em parceria com Guarabyra, que formaria o trio Sá, Rodrix e Guarabyra em seguida.

Outros nomes que conseguiram projeção graças à Elis foram Renato Teixeira, que teve sua “Romaria” imortalizada na voz dela e Ivan Lins.

Só quem é compositor, e precisa conseguir um meio de “furar o bloqueio”, na tentativa de apresentar suas canções a um intérprete  sabe como é difícil esse caminho e como uma artista como Elis faz falta.

Com sua sensibilidade aguçada e sempre à procura de novos talentos da composição foram muitos os nomes que Elis projetou e tantos outros que infelizmente ela não teve tempo de mostrar ao grande público. Elis gravar a canção de um compositor novo, era meio caminho andado para o sucesso, ou pelo menos para ser  o “cartão de visitas” do novo autor.

Elis faz muito falta, não apenas por sua voz  e estilo incomparáveis, mas também por essa generosidade em abrir espaço para os novos compositores, uma característica que infelizmente não é muito comum hoje em dia.

Texto de Klaudia Alvarez

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Twitter picture

You are commenting using your Twitter account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s