Tímida ao extremo fora do palco, quando pisava no solo sagrado dos artistas a ” garotinha” se transformava.
Desafiadora, debochada e angelical, ela dominava as plateias e se tornava imensa. Pena que se foi tão cedo, porém sua marca ficou registrada e impressa nos corações dos que desfrutaram de sua Arte. Mais atual que nunca, Cássia vive em cada uma das canções que interpretou. Hoje, faria 53 anos. Viva Cássia Eller! Pra sempre em nós!
Cássia Eller faz parte da minha vida musical, assim como outros artistas que representam uma geração efervescente do rock nacional que apareceu em Brasília, no final dos anos de 1980 e trouxe nomes como: Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude e depois, Cássia.
Ela inovou por sua voz peculiar e pela diversidade de seu repertório. Apresentou-nos clássicos da música. Cantou de Ataulfo Alves a Nirvana; de Chico Buarque a Edith Piaf. Quando subia ao palco, transformava-se num gigante com potencial inimaginável. Sua voz rouca e potente dominava qualquer tipo de público. No seu dia-a-dia, muito tímida, ela era avessa às obrigações dos meios de comunicação que a fama e o sucesso exigiam, sofreu e pagou um preço alto por suas escolhas pessoais e afetivas. Mostrou sua orientação sexual. Sustentou uma relação amorosa por anos. Para surpresa e espanto, engravidou de maneira natural e assumiu esse filho com sua companheira. Tudo isso, num tempo em que diversidade, homofobia, relações homo afetivas eram palavras distantes do nosso cotidiano.
Cássia me assustava. Eu não conseguia compreender suas atitudes e provocações no palco. Possivelmente, minha imaturidade não permitia. Mas, ao mesmo tempo, eu sentia uma admiração muito grande por ela e não conseguia compreender o porquê. Hoje, consigo entender aquilo que lá atrás me assustava: entender que essa mulher quis apenas ter uma vida simples e cotidiana, mesmo que não se encaixasse no padrão social vigente e, por isso foi acusada de ser agressiva e inconsequente. Entender que amor e paixão não se medem nem se encaixam em modelos pré moldados. Entender que a liberdade de escolher um amor não se vincula àquilo que a sociedade nos impõe como certo ou errado. Entender que quando o amor nos escolhe, nos oferece uma pessoa a quem amar e não um gênero (masculino ou feminino).
Pena que o coração dela não tenha aguentado. Pena que a sociedade não soube compreendê-la. Pena que as exigências profissionais, sufocaram-na. Pena que as pressões empurraram-na para o consumo exagerado de álcool e drogas. Emociono-me com suas apresentações até hoje. Infelizmente, não tive a oportunidade de vê-la pessoalmente. O amor e a admiração dos depoimentos de amigos, familiares e músicos, nas várias homenagens que ela recebeu, nesses anos todos, após sua morte. Assim como, no documentário biográfico lançado no começo deste ano, revela o quão especial ela era. Obrigada Cássia! Onde quer que você esteja. Feliz Aniversário.
Texto de Christina Elói
Definir Cássia Eller em apenas algumas palavras é realmente uma coisa impossível, mas decidi expressar aquilo que meu coração grita há tantos anos sobre essa cantora que influenciou toda uma geração.
Cássia não só cantou como encantou, uma definição clichê mas que se enquadra com tudo aquilo que ela fez em sua curta carreira, poucos anos, porém que foram de extrema valia para a cultura brasileira. Deixou um legado extenso e intenso, uma legião de fãs apaixonados, amor que transpassa a saudade e os anos.
Aquela garotinha que apareceu no início dos anos 90 arrebatou os corações do rebeldes apaixonados e deixou toda uma nação órfã de sua música e autenticidade naquele 29 de dezembro que pra nós não acabou.
Gostaria de escrever muito mais, mas Cássia é isso, cássia é sentir e não palavras que a mensure. Fica a saudade, fica o carinho, ficam suas interpretações impecáveis e sua voz inesquecível.
“Não tem explicação, não tem, não tem…”
Texto de Gustavo Henrique
Minha Cássia, impossível falar sobre você e não me emocionar, impossível te ouvir e não te acompanhar cantando onde quer que sua voz esteja.
Sou de uma geração que não teve tempo de te ver ao vivo, de te abraçar, de ir a teu show, de te falar o quanto é forte e bonito o que sinto por ti, mas a vida tem dessas coisas, vocês se foi, mas vive intensamente em meu coração.
Ah minha garotinha, com você o meu mundo ficaria completo. Queria que você ainda estivesse por aqui sendo a luz dos meus olhos, impossível não chorar ao lembrar quem você foi, gata extraordinária, impossível não chorar ao lembrar você cantando com o Nando, impossível não te amar.
É muito difícil falar em você, muito difícil detalhar todo o amor que existe. Você me faz rir, me faz chorar e me faz sentir todo o amor que houver nessa vida.
Já se passaram quase 14 anos, mais alguns virão e você, sua inspiração, alegria, imaginação e sorriso jamais serão esquecidos. Parabéns por seus 53 anos.
Cassia Rejane Eller, te amo!
Texto de Gabi Santos
Eu nunca assisti a um show dela. Na época, não estava preparada para entender a dimensão da arte de Cássia. Estranhava um pouco as atitudes no palco. Perdi a chance de desfrutar ao vivo de um espetáculo que, vejo hoje, que apreciaria muito e agora me restam os vídeos, que registram o momento, mas são frios. Nada substitui a emoção de se estar no mesmo ambiente, de respirar a atmosfera de um teatro, de observar a reação da pessoa ao seu lado.
Por outro lado, tive a sorte de poder assistir aos shows de Filipe Catto cantando Cássia e a emoção que senti ao vê-lo interpretando as mesmas canções que faziam parte do repertório dela, só me deram a dimensão do que devem ter sido os shows originais. Penso que poucos artistas conseguiram captar a energia e o impacto que Cássia criava no público como Filipe Catto. E reproduzir isso de uma forma que ela aplaudiria entusiasmada. O espírito e a força de Cássia continuam vivos.
Hoje, quando ela completaria apenas 53 anos de idade, sua obra está mais presente que nunca. Com o documentário sobre ela sendo exibido com sucesso nos cinemas , o musical lotando toda a temporada e depois de uma homenagem incrível no recente 30º Aniversário do Rock in Rio, Filipe volta a apresentar o show cantando Cássia, na cidade de Fortaleza, na próxima semana. Quem puder não deve perder essa oportunidade de ouvir as canções que Cássia imortalizou, em uma voz que também chegou pra ficar e marcar a nossa música. O tempo é agora, o momento é esse. Só a Arte nos liberta e nos transporta para um mundo onde ainda há espaço para a beleza e para o sonho. E vamos torcer para que o Deus venha, antes que seja tarde demais.
Texto de Klaudia Alvarez
Que essas palavras não sejam apenas PALAVRAS AO VENTO, mas CASO VOCÊ QUEIRA SABER eu PRECISO DIZER QUE TE AMO, DENTRO DE TI habitou o mais fervoroso canto, DIAMENTE VERDADEIRO, que encantava e me deixava MALUCA, FIZ O QUE PUDE pra superar a dor de te perder, mas te perder para mim foi como ERVA DANINHA. Linda como a mais perfumada PÉTALA, foi o seu canto que me mostrou O GOSTO DO AMOR… A LUZ DOS OLHOS seus ainda brilha e NADA VAI MUDAR ISSO. Meu PONTO FRACO é você. Te dou TODO AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA. Te amo minha estrela!!! Um RELICÁRIO de amor!!!
Texto de Nanda Eller
Sabe aquela chuva forte de verão, que cai violentamente e num segundo se transforma em uma garoa refrescante? Sabe aquele relâmpago que surge no céu, iluminando tudo, gerando uma mistura de choque e admiração? Sabe um vulcão? Com sua beleza e calmaria e que num segundo incendeia tudo ao seu redor? Assim eu via Cássia. Uma figura que me intrigava pela força e rebeldia no palco, misturada com doçura e timidez fora dele. Gostava de suas músicas, de sua voz, mas minha admiração por ela aumentou quando assisti a um show num espaço aberto, por volta de 2000. Ela tinha lançado o CD Com você meu mundo ficaria completo. Estava no auge da carreira. Ali no palco ela se transformava. Era a dona absoluta da cena. Uma força da natureza, com sua voz potente e sua postura rebelde. Um show delicioso, que guardo para sempre na memória. Foi a partir daí que passei a acompanhar suas entrevistas, e vi o quão tímida ela era apesar de extravasar no palco. Impossível não se encantar. Infelizmente, em pouco mais de um ano, ela partia… E foi difícil acreditar naquela notícia; difícil digerir aquele choque. Tristeza por uma trajetória interrompida e por sermos privados de seus futuros trabalhos. Ela saiu de cena num momento em que parecia que ia dominar o mundo, com tanto a conquistar… Cássia se destacou no cenário musical como intérprete. Uma intérprete perfeita, diga-se de passagem. Ela se apropriava daquilo que cantava, e colocava tanta verdade e emoção, que as letras se tornavam dela. Misturava ritmos, quebrava tabus, indo de Legião Urbana a Caetano, Nirvana a Edith Piaf, Cazuza a Ataulfo Alves, tudo com a mesma perfeição. Nando Reis, seu grande parceiro musical e amigo, disse que Cássia tinha o poder de ampliar os horizontes daqueles que olhavam para ela. É a mais pura verdade, tanto musical quanto socialmente. Sem querer, sem nenhuma pretensão, ela deixou através de seu filho Chicão e sua parceira Maria Eugênia, uma linda lição para a sociedade: a de que várias formas de família são válidas, desde que haja amor envolvido. Um tapa na cara da sociedade moralista e preconceituosa. Sua obra ganhou uma nova dimensão para mim, quando Filipe Catto montou um show em sua homenagem. Foi tocante presenciar um trabalho tão lindo, em que Filipe reconhecia abertamente a importância de Cássia em sua formação. Senti não ter explorado mais suas músicas, sua carreira enquanto ela ainda estava aqui. E não posso deixar de pensar em como seria perfeito ver esses dois juntos… Mas o destino quis diferente. Cássia para mim é um mar de emoções, uma artista ímpar e ainda assim gente como a gente, como ela mesma dizia. Que neste dia 10/12/2015, data em que faria 53 anos, onde estiver ela receba todo o nosso amor e vibrações em forma de muitos caminhões… carregados de botões de rosas.“Música é uma coisa bela, que me toca bem lá, bem lá dentro. Por isso eu tenho de ouvi-la. Não existe mais nada para mim além disso. Eu tenho medo de ficar alienada um dia por pensar assim. A música me comanda. Eu mudo meu estado de espírito de acordo com a música que eu tô ouvindo e eu só quero cantar porque é a única forma que eu tenho de extravasar. Eu cantando sei mais de mim. Você pode pensar que me conhece um bocado se algum dia você conversou comigo, se leu alguma coisa que eu escrevi, se foi pra cama comigo. Mas pode crer, você se espantará quando me ouvir cantar.”
Texto de Cristiana Oliveira
Nunca derramei tanta lágrima pra escrever um texto, pensei que seria fácil falar da Cassia, como estava enganada. Escrever esse texto aflorou emoções que a muito eu não visitava.
A Cássia, Marisa Monte e Arnaldo Antunes foram meus primeiros ídolos músicas, lembro de passar as tardes, após a escola alternando minha playlist entre eles, bons tempos esses.
Me identificava muito com ela, pois também era extremamente tímida, o único momento que perdia a timidez era quando eu pegava o microfone e começava a cantar “Malandragem” nas festas de família, cantava tanto que me rendeu um apelido de “mini Cassia” e depois de um tempo o microfone começou a sumir misteriosamente, também não era pra menos eu só cantava essa música.
Lembrei também que teve uma época que quase deixei minha mãe louca, lembro que juntei um dinheiro e comprei o disco “A Arte De Cassia Eller” e me apaixonei pela canção “O Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você)”, e lá fui eu aprender a cantar a música, e essa canção alem de ser longa tem uma letra difícil, passei dias e noites ouvindo, minha mãe tem tanto trauma que não pode ouvir mais ela (hehe).
Devido a sua rebeldia Cassia tornou-se para mim uma deusa, ela era autentica, não se preocupava com o que as pessoas iriam falar dela, “era fera, bicho, anjo, mulher (…)” ela era pura a essência da juventude e poesia.
Ela também me ensinou a não ter “preconceitos musicais”, pois com ela eu aprendi a ouvir rock a samba, simplesmente cantava a sua verdade. Prova disso é o Disco “Com você meu mundo ficaria completo” (Esse é daqueles discos da vida) que passeia por diversos estilos músicas e é incrível.
Cássia foi uma artista atemporal e completa.
Só é possível amá-la se escorre aos litros o amor (…)
Texto de Emilly Luciana Barbosa
Eu confesso que só conhecia o lado A da Cássia, aquele que só toca nas rádios. Pra falar a verdade, eu nunca tive interesse em buscar o repertório completo da Cássia. Só comecei a ouvir e curtir o lado B depois que assisti ao show “Filipe Catto canta Cássia Eller”. A estreia do show foi muito marcante pra mim. Filipe interpretou cada canção majestosamente. Foi arrebatador. Amei todo o repertório do show. Assisti dois dos três shows da temporada de estreia. No dia do terceiro eu fui pra Blumenau, SC, mas minha cabeça e meu coração ficaram com Filipe, no show que eu estava perdendo. Durante os shows, Filipe ficou muito emocionado, e falava da Cássia com tanto amor, tanto carinho… Acho que ele me contagiou.
Fui buscar a biografia da Cássia, ver vídeos e ouvir mais… Virei admiradora e fã dessa grande mulher e de seu trabalho.
Quando assisti ao documentário Cássia Eller, chorei do início ao fim. Através dele pude conhecer e entender um pouco mais a Cássia. Uma pessoa tímida que encontrou na música uma forma de se expressar e extravasar. Sua timidez nunca foi empecilho pra impedi-la de entrar no palco e cantar. E no palco, Cássia se transformava, virava um furacão. Sua voz muito marcante arrebatava. Tudo o que Cássia queria era cantar. Cantava o que queria, sem preconceito e sem se importar com o que os outros iriam dizer. E ela gostava de observar a reação das pessoas ao ouvi-la, por isso, preferia lugares pequenos para se apresentar.
Cássia foi uma batalhadora, guerreira e grande artista que, infelizmente se foi muito cedo. Mas, deixou uma grande contribuição para a música brasileira e marcou época. Cássia também protagonizou um episódio inédito na justiça brasileira, quando deixou a guarda de seu filho para sua companheira e a justiça respeitou sua vontade.
Hoje fico pensando… Por que eu não me tornei fã da Cássia há mais tempo, se eu curtia todos os seus sucessos e adorava a sua voz? Cássia me emociona de forma inexplicável… Quando a ouço cantar ou quando ouço alguma música que me faz lembrar dela… Eu adoraria ter tido a oportunidade de assistir um show da Cássia ao vivo.
Cássia Eller vive nas músicas que interpretava. Enquanto tiver pessoas que a escutem, Cássia nunca vai morrer!
Texto de Francielle Flores
Cássia Eller nasceu no mesmo dia que Clarice Lispector. Monstros na literatura e interpretação, elas têm muitas similaridades. Uma delas é pela arte alcançar lugares da alma antes não explorados e nos causar uma desesperada inquietação: nos lembrar da nossa condição finita e limitada, já que é uma realidade.
Mas Cássia não parou por aí, não se conformou. Nos mostrou claramente que essa condição humana não era nada, pois o limite era pouco para ela. Nos ensinou que a liberdade da alma nos salvaria das regras impostas, das chatas convenções humanas. E que amar é tão grandioso que às vezes parece que não daremos conta.
A música “Que o Deus venha”, que é um trecho do livro: Água viva de Clarice Lispector, foi adaptada por Cazuza e Frejat, e interpretada fortemente por Cássia. Essa união de texto e interpretação dessas duas mulheres que nos inspiram tanto é tão inexplicável quanto a interpretação que Filipe faz das canções da Cássia. O que nos resta é beber dessa fonte inacabável de beleza e arte.
Abaixo seguem o trecho do livro e a letra da música
“Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que eu não sei usar amor. Às vezes me arranha como se fossem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e no entanto continuo inquieta é porque preciso que o Deus venha. Venha antes que seja tarde demais. Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte e que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei — assim como se come e se vive o gosto da comida.”
Que o Deus venha
Sou inquieta, áspera E desesperançada Embora amor dentro de mim eu tenha Só que eu não sei usar amor Às vezes arranha Feito farpa
Se tanto amor dentro de mim Eu tenho, mas no entanto continuo inquieta É que eu preciso que o Deus venha Antes que seja tarde demais
Corro perigo Com toda pessoa que vive E a única coisa que me espera É exatamente o inesperado
Mas eu sei Que vou ter paz antes da morte Que vou experimentar um dia O delicado da vida Vou aprender Como se come e vive O gosto da comida
A única coisa que nos espera é exatamente o inesperado. Por mais que se calcule, por mais que se tente, ninguém sabe o dia de amanhã. Estarei morto? Serei atropelado? Encontrarei, andando na rua, o bilhete premiado? Algum fato surpreendente à minha espera?
Por isso, o inesperado é o que nos espera.
Como não sei o dia de amanhã, uma coisa, ao menos, é sabida: amor dentro de mim eu tenho & experimento a paz, algum conforto existencial em estar onde estou, em ser quem eu sou, e experimento também o delicado da vida, também abocanho o que a vida tem de alegre, de feliz, de exuberante (ainda que ínfimo & vão).
Temos que perceber como se come & se vive o gosto da comida, a fim de que se coma bem — com gosto, com prazer — aquilo que é degustado: um livro de poesia, um prato da gastronomia, a pessoa por nós desejada.
Texto de Mari Almeida
Vivi minha adolescência nos anos 80.
Vivi a efervescência do rock nacional.
Ouvi muitas bandas, fui a muitos shows, mas não curtia Cássia Eller.
Toda aquela intensidade me incomodava.
Eu não entendia.
Eu não sabia o que fazer com tudo aquilo.
Eu definitivamente não estava preparada para o que ela queria dizer.
Não da forma como ela queria dizer.
Não tinha repertório nem maturidade para alcançar a mente e o coração de Cássia.
Foi só recentemente, depois de ouvir Filipe Catto cantar Cássia Eller, que eu entendi do que se tratava sua arte.
Cássia não era de nuances, entremeios e abstrações.
Cássia era contundente, direta, do tipo ‘tapa na cara’.
Escancarada, de peito aberto, era desmedida no que sentia.
Ouvindo Filipe Catto cantar Cássia Eller, as coisas foram ficando mais claras para mim.
Como se uma névoa se dissipasse, me encontrei nas inquietudes e extremos de Cássia.
Assim como ela, minha vida é cheia de interrogações.
Assim como ela, eu busco um lugar que seja meu.
Assim como ela, estou na luta para saber do que se trata esse mundo maluco em que vivemos.
E no caminho, […]Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar[…].
Esse encontro fez com que eu me sentisse menos só.
Bom saber que existiu – ou existe – ao menos mais uma maluca como eu por aí….rs
Valeu Cássia, alinhadas!
Texto de Claudia Takano
O ano era 1993.
Eu, ainda estudante de Jornalismo, e estagiária da Rádio Educativa FM, recebi a missão de entrevistar uma jovem cantora que vinha à Curitiba lançar seu disco: Cássia Eller.
E que missão!!! Eu fazia a lição de casa direitinho e levava várias perguntas pré-elaboradas. E, normalmente, surgiam outras no decorrer da entrevista. Mas com Cássia a fórmula não funcionou.
Ela conseguia ser muito mais tímida do que eu e travava na hora da entrevista. As respostas variavam entre SIM, NÃO, ISSO MESMO e … pronto !!! Acabaram-se todas as perguntas num piscar de olhos, consegui pensar em mas algumas na hora e fim de entrevista.
Desliguei o gravador, agradeci e vi surgir outra pessoa na minha frente.
Muito mais espontânea, queria saber se eu já tinha ouvido o disco, se ele estava tocando na Rádio e conheci pessoalmente a pessoa incrível que Cássia era, a sua alegria, a gargalhada fácil.
Me convidou para assistir a passagem de som e, à noite, o show. Depois, fui ao camarim e pude perceber, de novo, o que a ausência de um gravador fazia com ela. Cássia se soltava, era de uma simpatia com os fãs, uma figura prá lá de agradável. Recentemente, assistindo ao musical em sua homenagem, a cena de uma entrevista coletiva me remeteu àquele dia … SIM, NÃO, ISSO MESMO!!!
Mas, em várias outras ocasiões eu já havia sido transportada de volta àquele dia, àquele show no antigo Aeroanta.
Cássia ainda tinha um cabelão enorme e, quando sorria, se iluminava. Mas, quando soltava a voz, iluminava a todos ao seu redor. Como podia alguém cantar daquela forma?
E tudo já estava lá, desde o início: a atitude rock´n´roll, as apresentações viscerais, uma sede de viver da sua arte que me comovia. E a gargalhada frouxa, livre.
Ah, os peitos de fora que o Brasil conheceu no Rock in Rio também já estavam lá. Eu vi, um metro de distância do palco.
Naquela noite, definitivamente, Cássia se tornou a cantora da minha vida E para sempre !!!
Cazuza sempre foi uma grande paixão na minha vida, também. E quando Cássia lançou Veneno Antimonotonia, nada mais precisava ser dito.
Mas fã que é fã, de verdade, também tem seus momentos de surto. E eu, como toda boa e legítima libriana, possessiva que sou, ao mesmo tempo em que ficava feliz com o sucesso chegando, principalmente depois do Acústico MTV, também morria de ciúmes da situação, porque ela era a “minha” cantora preferida e agora tinha uma multidão de pessoas repetindo a mesma coisa. Achava que ela tinha que voltar à sua origem, sua atitude rock´n´roll, que estava perdendo a sua essência. E fiquei “de mal”.
Também não durou quase nada, porque meu amor era tão grande, que qualquer coisa que ela fizesse eu adorava.
Me lembro da gravação de um Bem Brasil, no Sesc Interlagos, onde acho que ela conseguia ouvir perfeitamente os meus gritos, mesmo com um lago de distância nos separando.
Acompanhei avidamente cada passo da sua vida. Amei a sua gravidez e o nascimento de Chicão, torci muito para que ela vencesse sua luta contra as drogas.
Até que chegou aquele triste dia 29 de dezembro. Não gosto nem de lembrar. Eu tomei um susto tão grande, seguido de muita dor, de verdade. Desabei a chorar que assustei quem estava próximo à mim … Incrível como a gente consegue amar tanto alguém que não é da nossa convivência, como se fosse próximo a nós.
Por tudo isso, acho que dá para entender o arrebatamento que tomou conta de mim quando Filipe anunciou que iria fazer o show em homenagem a ela. Eu precisava ver este show. Não consegui na estreia e não estava vendo muitas possibilidades de ver. Quando disseram que talvez aquele show da Galeria Olido, em outubro do ano passado, fosse o último desta homenagem, eu não pensei duas vezes: tinha que ver. E corri prá Sampa. E foi tudo tão lindo e tão mágico, que não parei mais. Mais um motivo de agradecimento a Filipe Catto.
Muitas grandes cantoras surgiram e continuam surgindo no Brasil. Mas Cássia continua sendo a cantora da minha vida … E para sempre !!!
“Não tem explicação. Explicação, não tem. Não tem explicação”
Texto de Joceli Franco
Cássia Eller não era tão conhecida em Portugal como outros astros da MPB, no entanto, “Malandragem” de Cazuza, ficou no ouvido de muitos.Eu conheci sobretudo, através do disco acústico.Aquele jeito rebelde e aquela voz rouca captaram-me a atenção sobretudo nas interpretações das músicas da Legião Urbana. “Por enquanto” é para mim o expoente da interpretação da cantora.”O segundo sol” também é uma canção marcante embora de outro autor. Acho engraçado Filipe Catto gostar de interpretar Cássia Eller. São ambos duas grandes vozes.Fiquei contente de saber que o filho está seguindo as pisadas da mãe.Presto, assim, minha homenagem a essa falecida cantora brasileira.
Texto de Miguel Graça
Em 1999, Cassia Eller lançou o disco “Com você meu mundo ficaria completo”, em que gravou minha música “Maluca”. Nesse mesmo ano, foi publicado pelo selo Ficções de Interlúdio, o meu primeiro livro, Cinema Orly. Ter acontecido essas duas coisas naquele mesmo ano foi fundamental pra que eu, sem ter muita consciência, começasse a sentir um lugar pra onde eu tinha me colocado ou lugar pra onde eu tinha sido levado e que fui cada vez mais assumindo, porque é muito difícil assumir-se artista no meio de tanta adversidade, e mesmo que não tenha outro jeito, acho difícil da gente se assumir, porque a vida é tão livre, porque, então, nos prenderíamos, nos colocaríamos num lugar?
A primeira coisa que eu vi, ao ouvir a Cassia Eller cantando a Maluca foi a delicadeza e o respeito com que ela fez a sua versão. Mas tinha uma coisa. Mesmo que a música tenha sido respeitada em absoluto, tinha muito mais na versão dela. Foi como se ela tivesse pegado a minha melodia e ao cantar fosse me mostrando, ó, Luís, mas tem mais isso aqui, ta vendo? E, aí, foi arrasando tudo…
E é lindo demais ser cantado! Sou todo gratidão!
Texto de Luís Capucho
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