ANTONIO VARIAÇÕES – ANJO TORTO
(Christina Eloi)
Vou continuar a procurar o meu mundo,
o meu lugar
Porque até aqui eu só
(Canção: Estou além – António Variações, 1983)
António Variações é considerado o pai do pop português. Nascido num ambiente rural, Antônio logo se muda para Lisboa, pois sentia que aquela realidade do campo não era a sua.
Gostava de estudar e tinha interesse particular por arte e música. Desde muito cedo, absorveu a vida cultural de Lisboa frequentando teatro, assistindo a shows e participando de rodas de cultura. Era considerado um homem excêntrico pela forma como construiu sua casa, com objetos e cores que não eram comuns para a época, mesmo para a classe artística portuguesa.
Viajou por diversos países da Europa, retornando de tempos em tempos à sua terra. Fica claro, que o contato com as diversas culturas, influenciou diretamente na construção de sua personalidade e do modo como ele lida com a arte.
A música sempre esteve presente no seu dia a dia, mas seu contato com ela mais diretamente ocorreu, quando exercia o ofício de cabeleireiro e os artistas frequentavam seu salão.
Chamava a atenção de todos pela forma como se vestia e por seu comportamento extravagante, mas António dizia ter uma alma reservada com traços de timidez. Segundo sua biógrafa, conseguia separar muito bem sua vida pública de sua vida privada.
Diante de personalidade tão enigmática, no início de sua carreira, chegou a ser incompreendido por críticos e público. A concepção estética de seu trabalho era algo muito moderno e diferente aos olhos de uma Lisboa tradicional.
Muitas foram as tentativas de se iniciar na música, algumas delas, frustradas. As coisas só começaram a mudar a partir dos anos de 1980. O que transformou decisivamente o alicerce da carreira de Variações foi sua aparição num programa de tv. Primeiro, pela forma exótica com que se apresentou e depois por sua interação com a plateia. A reação causou espanto aos amigos mais próximos, pois destoava do conservadorismo português.
A partir daí, Variações teve papel decisivo para a mudança de paradigmas da cultura portuguesa, trazendo toda bagagem construída através de suas viagens e do contato com intelectuais e artistas vanguardistas.
António não tocava nenhum instrumento e nem conhecia a estrutura de uma partitura ou dos acordes dos instrumentos. Suas músicas eram compostas cantaroladas por ele e o acompanhamento era a batida de seus dedos na mesa, processo totalmente intuitivo. Ele sintetizava folclore, fado e pop rock internacional, ou seja, sua linguagem era pós-moderna.
O que se percebe é que Variações foi um artista muito peculiar na cultura portuguesa. Figura singular, de vida breve. Sua postura trouxe cores vibrantes ao pop português, sem nunca negar suas origens. Era um contraste frente ao cinza da música nacional. Deixou uma obra inacabada que só foi realmente reconhecida por gerações posteriores. Hoje, ele é cultuado como grande ícone da cultura pop portuguesa.
Sua morte,em 13 de junho de 1984, não o colocou no esquecimento. Ele permanece vivo no ouvido das novas gerações, o que confirma a solidez de sua música e de seus textos.
“E a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir
a vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir”
(Canção: Quero é viver. António Variações. 1983)
Fontes: https://www.antoniovariacoes.pt/pt/biografia
http://blitz.sapo.pt/principal/update/2017-09-10-A-historia-secreta-de-Antonio-Variacoes