Um milhão de novas palavras

Alegria_Alegria

Alegria, Alegria.
(Christina Eloi)

Assisti ao musical Alegria, Alegria, que comemora os 50 anos da Tropicália. O espetáculo foi conduzido pela cantora Zélia Duncan.

Interessante a abordagem. A Tropicália foi um movimento na música popular brasileira muito importante no final dos anos de 1960. Ela quebrou os paradigmas musicais e culturais da época, num período em que o país passava por uma repressão muito severa. Tudo era proibido.

Atitude corajosa dos artistas que criaram esse movimento. Caetano, Gil, Gal, Bethânia, Tom Zé, Rogério Duprat, Os mutantes, entre outros propunham o resgate das raízes mestiças do Brasil. Começou pela música e se estendeu pela literatura, artes plásticas, cinema, arquitetura. Mário de Andrade, Araci de Almeida, Carmem Miranda, Jeca Tatu, Macunaíma eram algumas das referências.

Como nasci em 1964, não tenho na memória nenhum registro dessa época. Ele apareceu na minha vida, quando fiz faculdade, no período da redemocratização. O contato com esse movimento foi essencial para a minha formação política e cultural e de suma importância para a reconstrução da minha identidade social.

No decorrer do espetáculo, voltei no tempo; me emocionei ao reviver aquele sentimento de brasilidade que nos fez ir às ruas gritar por DIRETAS JÁ e pedir o IMPEACHMENT do Presidente Collor.

A apresentação relembrou que somos um povo de vários credos, vários sotaques, várias culturas, várias paisagens, numa diversidade ímpar. Rememorar esses aspectos fez meu coração bater mais forte.

Alegria, alegria aparece num momento delicado da política nacional. Várias notícias sobre corrupção chegam a nós diariamente. Ela está instalada em todos os departamentos governamentais dos três poderes. Mesmo que o espetáculo tenha sido pensado para homenagear aqueles artistas, ele traz uma reflexão sobre quem somos; de onde viemos; como fomos formados.

Esse povo mestiço e criativo que tem fé e consegue dar a volta na adversidade. Hoje, parece encurralado pelo descaso daqueles que governam o país. O musical revive aquela sensação de pertencimento e mostra que a mudança só pode ser feita por nós mesmos, a partir da confiança na nossa capacidade e na nossa força. Valeu Zélia Duncan por apresentação tão significativa!

“Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”.

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