
Recebi a notícia da morte de Belchior muito cedo da manhã de 30 de abril, e, para mim, se tratava apenas de um boato infame. Mas não era. Com o passar do dia, fui tomando consciência de seu significado: as redes sociais foram tomadas por trechos de suas canções. Um lamento intenso. Amigos me mandavam mensagem de conforto, porque, tanto ele como eu, carregamos o nome da mesma cidade de nascimento em nossos registros. Um pedaço de terra que nos constitui como pele, portanto, parte de mim que também partia. Hoje muito cedo já estava de pé para ir vê-lo. Havia uma atmosfera de saudade e respeito nas ruas. Em minha cabeça passaram todos os momentos importantes de minha vida dos quais suas músicas fizeram parte, inclusive, a descoberta da própria música. Antes de ouvir “Como os nossos pais” em minha casa não havia aparelho de som, depois desse dia, talvez tivesse uns 13 anos, deu-se a transformação: nunca mais me senti sozinha. Agora havia uma voz ao fundo a me acompanhar aonde quer que fosse. Vozes com cheiro de lugares. Belchior se foi exatamente com o mesmo cheiro da primeira vez em que o ouvi. Cheiro de inverno, nosso bem mais precioso. Cheiro de chuva, água e lágrima.
Sobral, 01 de maio de 2017.
Ontem houve música na frente do teatro São João onde Belchior foi velado pela manhã por fãs e familiares, os que ainda vivem aqui.
O corpo veio de Fortaleza, onde já estava sendo velado e retornou para ser sepultado na capital cearense.
Em Fortaleza há um bloco de carnaval chamado Os Belchior.
(Texto de Carmélia Aragão)


No finalzinho dos anos 70, quando eu comecei a conhecer e me encantar pela música cearense, me lembro que se falava que havia uma “Santíssima Trindade” da música feita naquele estado ensolarado. Tratava-se de Fagner, Belchior e Ednardo. Foram esses os nomes que chegaram primeiro no “sul maravilha” e os que fizeram a fama do que se produzia de melhor por lá. Lógico que tinham muitos outros talentos, mas esses três foram os que mais penetração conseguiram no concorrido mercado da MPB no sudeste. Agora, a “trindade” foi partida. Deixou-nos o grande letrista, o pintor, o talentoso e ficou o enigma sobre a motivação real de tudo que aconteceu em sua vida/carreira nesses últimos anos. Penso que não cabe a nenhum de nós julgar nada. Os motivos e as razões por trás das atitudes do artista são de ordem pessoal e só dizem respeito às pessoas mais próximas. O que nos resta é lamentar a perda de alguém tão talentoso,mas que nos deixou uma obra incrível e ainda pouco conhecida pelos jovens de hoje.
Da mesma forma que Elis Regina se encantou com as letras do sobralense que chegou ao sudeste para ficar e encantar a todos que tiveram a chance de conhecer seu trabalho, o momento da perda faz com que muita gente queira conhecer agora o que representou/representa Belchior no cenário da música brasileira.
Eu tive a sorte de assistir a alguns shows de Belchior e conversar rapidamente com ele nos pós shows. Só guardo recordações boas, de uma pessoa extremamente gentil e cordial. Um homem muito elegante no modo de se vestir e de tratar os fãs. É com uma tristeza imensa que recebo a noticia de seu falecimento e de saber que a “Santíssima Trindade” está partida, com o triângulo não mais se fechando. Uma eterna lacuna que não será preenchida.
(Texto de Klaudia Alvarez)

Um dos compositores da minha vida !!!
❤ ❤ ❤
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Notícia dilacerante!
Como não bastasse a partida repentina e definitiva, dói muito saber que apesar de termos feito tudo o que fizemos/ ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais…em busca de um país melhor.
A atualidade dos versos que Belchior nos deixou faz pulsar a revolta e a inquietação que corria em suas veias.
Ah! Tomara que cada um de nós possa dizer de que lado nasce o sol…
Parabéns Carmelia e Klaudia pelos textos, pela justa homenagem, por nos trazer a emoção do contato com o rapaz latino-americano que retornará sempre para o nosso convívio todas as vezes que as velas do Mucuripe saírem para pescar.
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