Memória: Nara Leão

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Foto sem crédito de autor

Nara Leão, a doce voz da Bossa Nova.

“A Bossa Nova foi importante para mim e para a humanidade, pois mudou a música do mundo inteiro. Primeiro, é preciso destacar o João Gilberto, porque ele mudou tudo. Chegou até a ser chamado de desafinado, coisa que ele não é.
Na verdade é afinadérrimo, a coisa mais afinada do mundo, mas as pessoas achavam que um cantor que não gritasse era desafinado. Sua maneira de cantar é fantástica, não precisa de orquestra nenhuma. O violão, sozinho, parece uma orquestra. Com a boca, faz uma bateria, milhares de coisas. (Depoimento de Nara Leão para Almir Chediak no Songbook Bossa Nova)

“Logo no início do ano, Nara Leão saiu com três músicas minhas no disco dela. Aquilo foi muito importante pra mim. Ser gravado por Nara Leão era uma marca de qualidade. Ela era muito conhecida e muito prezada pelo repertório, pela descoberta de novos compositores que estavam esquecidos, como Cartola, Nélson Cavaquinho e Zé Kéti, e de gravar músicas de autores novos como Edu Lobo, Sidney Miller e eu. Naquele disco, havia três músicas minhas: Olê, olá, Pedro Pedreiro e Madalena foi pro mar”. (Chico Buarque de Holanda – Songbook)

Nara Leão nasceu no Espirito Santo, em um dia 19 de janeiro e, ainda criança, mudou-se para o Rio de Janeiro. Adolescente tímida, descobriu nas aulas de violão uma forma de se expressar. Roberto Menescal foi seu professor e a partir dessa aproximação é que Nara entrou em contato com outros artistas que criaram um novo ritmo brasileiro inspirado no jazz: a Bossa Nova.
Ela fez do apartamento da família o ponto de encontro para vários artistas como Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Carlos Lyra, Roberto Menescal, entre outros. Foi eleita a musa da Bossa Nova, e com sua voz de pouca extensão, mas muito afinada, representava perfeitamente esse ritmo minimalista.
Nara era uma cantora suave, discreta. Suas interpretações eram pautadas pela simplicidade e delicadeza.
Há quem diga que havia uma intriga muito grande entre ela e Elis, não só pela forma antagônica como interpretavam as canções como também pelo fato de que, quando Elis chegou ao Rio, Nara era namorada de Ronaldo Bôscoli.
Sua estreia nos palcos aconteceu no musical Pobre Menina Rica escrita por Vinícius de Moraes e Carlos Lyra. Seu primeiro disco traz o resgate de autores como Cartola e Nelson Cavaquinho. Foi no show Opinião ao lado de João Vale e Zé Kéti, que Nara mostra seu lado político e contestador. Ficou evidente seu engajamento político. Esse show foi um marco nos espetáculos de protesto produzido pelo Teatro de Arena, tinha na direção musical Dori Caymmi e na direção geral Augusto Boal. A canção-tema dizia: “Podem me prender / podem me bater / podem até deixar-me sem comer / que eu não mudo de opinião…”.
Ela dá entrevistas criticando o governo militar, atitude que causa reações adversas e que a conduzem ao exílio junto com seu marido, o cineasta Cacá Diegues. Ela também apoia a Tropicália, ritmo musical que revelou Caetano Veloso e Gilberto Gil, o que causou espanto e muitas críticas por causa de seu envolvimento com a Bossa Nova. A jovem tímida que tinha medo de subir no palco transforma-se numa mulher contestadora de opiniões fortes.
Nara ganhou o 2º Festival de Música Popular Brasileira cantando ‘A Banda’, música de Chico Buarque em 1966.
Após isso, vai para o exilio na França e fica lá por dois anos. Quando retorna ao Brasil, decide estudar psicologia, mas não abandona a música. Os shows ficam mais esporádicos já que Nara decide se dedicar à maternidade e ao curso.
Nara Leão tinha um tumor cerebral inoperável. Ela sofria com o problema há 10 anos. O tumor estava numa área delicada do cérebro, por isso não podia ser operado. A cantora sentia fortes dores de cabeça e tonturas, fator decisivo para Nara tentar largar a carreira musical. Nara morreu no dia de 7 de junho de 1989, aos 47 anos de idade.

Texto de Christina Eloi

Fontes: http://memoriasdaditadura.org.br/artistas/nara-leao/
http://mpbbossa.blogspot.com.br/2013/03/nara-leao-biografia.html
https://educacao.uol.com.br/biografias/nara-leao.htm

1 Comment

  1. Queria que o som do mundo fosse a suavidade da voz dela com a firmeza de sua ideias.
    Queria que o som do mundo fosse a docilidade da sua interpretação.

    Queria mais música a nós alimentar na vida!
    Música é sabor que entra pelos ouvidos antes de chegar à boca e que digere tudo que ao estômago faz mal!
    Vamos voltar a ter uma bossa como a nova, que vem na brisa, que repousa no mar, que nos deixa à toa até o amor nos chamar!
    Valeu a lembrança FCEF!

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