Em seu livro ” Minhas mulheres e meus homens”, lançado originalmente em 1999, o escritor e jornalista MARIO PRATA conta a história de como nasceu a canção “Olhos nos olhos”, de Chico Buarque e que Filipe Catto interpreta de forma especial e emocionada. Vale a pena conferir.
“MARTA GÓES, jornalista e escritora
(Araraquara, 1974)
A gente marcava e desmarcava tanto o nosso casamento que, quando entrávamos no cartório, a velhinha chegava até a dar conselhos para nós. Felizmente, entre o casamento e a separação, cinco bons anos, deu tempo para fazer o Antonio e a Maria. Nos separamos tanto, antes de casar, que, numa dessas, ela arrumou outro. Fiquei mal. Chorei. Não nos ombros do Chico Buarque, mas na rede dele. No dia seguinte, o Chico me liga e marca uma carne seca no Final do Leblon. Começa a batucar na mesa: – Fiz uma música com a história da Marta. E cantarolou versos ainda esparsos:
Quando você me deixou, meu bem, me disse para ser feliz e passar bem
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao saber que sem você eu passo bem demais
Tantos homens amei e bem melhor que você
Sendo que nesse último verso ele morria de rir. Quando voltei para ela, contei da nova música que seria gravada pela Maria Bethânia. Vou com ela à casa do Chico. O Chico canta para ela, tirando sarro com a minha cara.
Nunca contamos isso pra ninguém, porque , ninguém ia acreditar que “Olhos nos olhos”, essa obra prima, tinha sido feita para nós dois. Mas contamos para o Humberto Werneck quando ele estava escrevendo o songbook do Chico. E o viado do Chico negou, deixando eu e a Marta com a cara (e os olhos) no chão.
Primeira oportunidade, cobro do Chico. Ele, desculpando-se: -É que, na época, eu disse para outra pessoa, que tinha feito para ela, entendeu?
Entendi.”
Págs. 89/90 – In: Minhas mulheres e meus homens – Mario Prata – Editora Planeta – 2011.
Show Coração Intransitivo – SESC Vila Mariana – 12/06/15